quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Projeto para o Porto retoma proposta urbanística que o Rio deixou de lado


O Globo, 8/8/2011

MIOLO OLÍMPICO

Projeto para o Porto retoma proposta urbanística que o Rio deixou de lado
Karine Tavares
O que você vê pela janela dos fundos do seu apartamento? A grande parte dos moradores do Rio vê outras janelinhas, garagens ou áreas abandonadas, certo? Tudo porque quarteirões de bairros como Copacabana, Ipanema, Laranjeiras e Centro foram construídos tendo, em seus miolos, vazios que poderiam ser uma área pública, mas que, ao longo dos anos, foram indevidamente apropriados, dando lugar a estacionamentos ou... a nada.
O projeto vencedor do Porto Olímpico — onde ficarão as vilas para árbitros e jornalistas durante as Olimpíadas de 2016, que depois serão transformadas em área residencial — pretende recuperar esse lado interno dos quarteirões. Como? Fazendo ali praças e áreas verdes que, além de servirem ao lazer dos moradores, podem vir a ser abertas ao público, como aliás, o bairro será. Os serviços serão voltados para a rua: não ficarão dentro de áreas fechadas, como se vê em grandes condomínios construídos no Rio nas últimas décadas. Ou seja, o projeto do Porto Olímpico oferece, ao futuro da cidade, uma alternativa de padrão urbanístico.
— O Porto Olímpico nos mostra uma cidade de melhor qualidade, porque reúne os benefícios contemporâneos de um bom ambiente de moradia, com equipamentos de lazer e esportes, que, de certo modo, são apresentados como exclusivos dos grandes condomínios fechados — garante, entusiasmado, Sérgio Magalhães, presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), instituição que, em parceria com a Prefeitura do Rio, realizou o concurso para escolha do projeto do Porto.
A vantagem desse tipo de projeto, além de garantir maior circulação de ar e incidência de luz natural aos apartamentos, será transformar as paredes de fundos dos edifícios em paredes da frente. Afinal, os dois lados terão visão para a rua ou para praças e áreas de lazer.
— A ideia é que cada quarteirão tenha sua pracinha, em vez de uma única área de lazer no bairro. Além de agregar valor aos apartamentos, que deixam de ter a vista devassada, dá legitimidade ao espaço: como se cada morador fosse um pouco dono dali — diz o arquiteto João Pedro Backheuser, que fez o projeto vencedor em parceria com o escritório Alonso Balaguer, de Barcelona.
Projeto investe em bairro aberto para a cidade

Conceito inspirado em Barcelona é tendência mundial

Se traz de volta um Rio do passado, o projeto do Porto Olímpico também apresenta uma tendência urbanística mundial de valorização de pequenas quadras. Não à toa, João Pedro Backheuser se associou ao escritório catalão Alonso Balaguer. Juntos, eles se inspiraram em Barcelona — cidade que há 19 anos sediou uma olimpíada e, desde então, teve tempo suficiente para viver sua revitalização. — Em Barcelona, a atuação urbana substituiu antigas fábricas e edifícios abandonados por novos. No Rio, nossa proposta busca gerar ruas, praças e diversidade de perspectivas e espaços; e fazer com que seus habitantes sintam orgulho da cidade colaborando com a sua manutenção e desenvolvimento futuro — defende IgnasiRiera, do Alonso Balaguer.‘Espaço garantido para condomínios fechados’Para Sérgio Caldas, presidente da Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura, o grande mérito do projeto é interligar o bairro à malha urbana da cidade.— É uma questão de comportamento também. No Porto, a tendência é que haja um bom sistema público de transporte, e com isso, as pessoas tendem a andar menos de carro, quem sabe até usar a bicicleta — acredita.Seria o fim dos grandes condomínios fechados? Não para Rubem Vasconcellos, presidente da Patrimóvel, uma das maiores imobiliárias do Rio:— O Porto tem terrenos fracionados, precisa de praças, esquinas. É o lugar de andar na rua, da vida noturna. Não tem nada a ver com clubes-residência, que continuarão tendo espaço em bairros como a Barra.

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