quarta-feira, 10 de agosto de 2011

INDÚSTRIA APONTA GARGALOS NO DESEMPENHO DOS PROFISSIONAIS


Carta da Indústria, Ano XIII, Número 519, 14 a 20 de Julho de 2011 (Sistema Firjan)
INDÚSTRIA APONTA GARGALOS NO DESEMPENHO DOS PROFISSIONAIS
Segundo a pesquisa, nos últimos seis meses, 81,1% das indústrias tiveram aumento ou ao menos manutenção da quantidade de funcionários. Do total, mais da metade (53%) não obteve sucesso na tentativa de preencher os postos de trabalho
Com o crescimento da economia brasileira e, em especial, do estado do Rio, a demanda por profissionais está em alta, principalmente nas indústrias. E o que as empresas buscam na hora de contratar? Trabalhadores qualificados. Mas isso por si só não basta. É preciso algo mais.
Pesquisa elaborada pelo Sistema FIRJAN – “o que falta ao trabalhador brasileiro” –, com diretores e gerentes da área de fabricação de 607 indústrias brasileiras de médio e grande portes, concluiu que cerca de 90% das empresas enfrentam hoje dificuldades na contratação de profissionais com as seguintes competências: capacidade para resolver problemas; reagir diante imprevistos; persistência em superar as dificuldades do dia a dia e capacidade de observar e interpretar dados.
“Nosso objetivo foi investigar as explicações para o descasamento entre a oferta e a demanda de profissionais. Primeiramente, procuramos identificar se as indústrias conseguiram preencher seus postos de trabalho nos últimos seis meses. Mais da metade não conseguiu e uma parcela grande não estava satisfeita com o desempenho dos trabalhadores contratados. o que mais chamou a atenção foram as lacunas apontadas em habilidades que transcendem a qualificação profissional e técnica – como liderança”, afirma Luciana de Sá, diretora de Desenvolvimento Econômico e Associativo do Sistema FIRJAN.
a amostra é expressiva e envolve dois importantes segmentos da economia – as indústrias de transformação e a construção civil – que empregam 260.239 trabalhadores brasileiros. Segundo a pesquisa, tais competências podem, no entanto, ser desenvolvidas na educação Básica, inclusive, por meio de habilidades matemáticas.
“A educação básica é pré-requisito para que o cidadão desenvolva uma competência profissional específica. É muito difícil formar um profissional competente sem que o mesmo tenha tido acesso a uma educação básica de qualidade. Essa lacuna terá de ser preenchida em programas de formação continuada e módulos extras nos cursos de formação profissional, representando maior tempo e custo na formação, sem, entretanto, garantia dos mesmos resultados”, explica Andréa Marinho, diretora de Educação do Sistema FIRJAN.
COMPETÊNCIAS
Segundo a pesquisa, nos últimos seis meses, 81,1% das indústrias tiveram aumento ou ao menos manutenção da quantidade de funcionários. do total, mais da metade (53%) não obteve sucesso na tentativa de preencher muitos ou parte dos postos de trabalho que estavam disponíveis. Para os 47% que conseguiram preencher total ou quase totalmente suas vagas, 65,3% disseram que os profissionais contratados desempenham suas funções de modo razoavelmente satisfatório. Para 71,4% das empresas entrevistadas, a contratação de profissionais com qualificação abaixo da necessária é uma prática comumente utilizada, resultado que chama a atenção.
“Na avaliação, verificamos que há condições de se melhorar o desempenho dos trabalhadores na indústria por meio da educação básica e profissional, de forma integrada. E, ainda, desenvolver essas competências a partir da matemática, que tem um ambiente complexo e trata de fatos não rotineiros”, acrescenta Hilda Alves, gerente de Pesquisas e Estatística do Sistema FIRJAN.
VOZ DO MERCADO
Para o presidente do Sindicato da Indústria de Material Plástico do Estado do Rio de Janeiro (Simperj), José da Rocha Pinto, o raciocínio lógico é fundamental e tem de ser estruturado: “A capacidade analítica pode ser desenvolvida pela educação básica e aprimoramento de competências, seja no caso de um pedreiro ou um engenheiro de produção. A habilidade é uma ferramenta, e você não pode ter um profissional pronto
só com a cultura da empresa, ele tem de ser preparado. Os valores comportamentais
são fundamentais, ou seja, relacionar-se com as pessoas e ter capacidade de lidar com pressão”.
Alberto Carneiro, sócio da Metalúrgica Vulcano, acredita que o grande problema de profissionais no Brasil está relacionado à formação básica. “Hoje há uma grande dificuldade de se conseguir trabalhadores completos. Tanto é que, para se qualificar um técnico, leva-se de um ano a um ano e meio, mas, para treinar habilidades gerenciais e administrativas, de dois a três anos”, afirmou. Para não errar na hora do
recrutamento, Carneiro diz que a empresa tem um rígido processo de seleção em que comportamento e formação básica são quesitos importantes.
Enquanto que para os empresários da indústria da transformação, a principal dificuldade reside nas competências comportamentais, na construção civil é a falta de
experiência. A questão vem à tona na medida em que a pesquisa do Sistema FIRJAN constatou que 71,6% das empresas na indústria de construção civil vão criar postos de trabalho em todo o país nos próximos 12 meses, contra: 56,6% na transformação.
E o número é ainda mais significativo quando se trata de um horizonte maior, como 2016, já que 63,3% das empresas preveem que haverá expansão das contratações. O que indica a crescente necessidade de absorção de profissionais na área produtiva. Roberto Kauffmann, presidente do Sindicato da Indústria de Construção Civil no Estado
do Rio (Sinduscon-Rio), lembra que o sindicato vem fazendo parcerias com o Senai e órgãos governamentais para formar profissionais para o grande canteiro de obras em que o Rio está se transformando. “Aideia é não só preparar esses futuros profissionais,
mas levar a percepção de que a construção civil passa por uma inovação tecnológica. Não é mais artesanal e sim uma montagem industrial”, diz o empresário.
PRINCIPAL DIFICULDADE NA CONTRATAÇÃO
Falta ao trabalhador principalmente características e competências como capacidade de assimilar conteúdo, raciocínio lógico, liderança e iniciativa; mais que a própria capacitação profissional, experiência ou nível de instrução escolar.
*Que tenham competências e características comportamentais
Principal dificuldade: 60,5%
Segunda maior dificuldade: 39,5%
Ranking: 1
*Que tenham experiência
Principal dificuldade: 45,4%
Segunda maior dificuldade: 54,6%
Ranking: 2
*Que tenham formação profissional
Principal dificuldade: 51,0%
Segunda maior dificuldade: 48,5%
Ranking: 3
*Que aceitem o valor de salário oferecido
Principal dificuldade: 51,0%
Segunda maior dificuldade: 49,0%
Ranking: 4
*Que tenham nível de instrução adequado
Principal dificuldade: 35,5%
Segunda maior dificuldade: 64,5%
Ranking: 5
# Na indústria da transformação, a principal dificuldade reside nas competências comportamentais, enquanto na Construção Civil é a falta de experiência.

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