quarta-feira, 19 de outubro de 2011

CONSTRUTORAS Brasileiras APOSTAM NAS CASAS POPULARES

Brasil Econômico, 13/10/2011
CONSTRUTORAS APOSTAM NAS CASAS POPULARES
Na Rossi, segmento já responde por 50% da receita. Na Cyrela, projeção é que a Living, braço econômico da empresa, represente metade do faturamento até 2013
A disponibilidade de crédito para o segmento imobiliário praticamente triplicou no país nos últimos sete anos. Em 2004, o montante destinado à compra de imóveis representava 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Hoje, o índice é de 4,6%, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). A maior disponibilidade de crédito está atrelada à melhoria na condição econômica dos brasileiros e aos programas de incentivo habitacional, como o Minha Casa, Minha Vida.
Com este cenário, as principais construtoras do país passa ram a explorar novos segmentos, especialmente o de baixa renda. Batizada de “braço econômico” das construtoras, essa nova divisão de negócios já existe em companhias como Gafisa, Rossi e Cyrela.
Em outros casos, como o da MRV Engenharia, foi a construção de casas populares que deu origem ao negócio. “A divisão voltada para a baixa renda já responde por 50% dos negócios totais da Rossi”, diz Rodrigo Martins, diretor comercial da empresa. No ano, o Valor Global de Vendas (VGV) da Rossi foi de R$ 3,3 bilhões.
Minha Casa, Minha Vida
O peso do programa Minha Casa, Minha Vida nos negócios da construtora dá a exata dimensão da importância que a construção de imóveis residenciais para a base da pirâmide tem para o mercado. “O programa responde, sozinho, por cerca de 40% dos nossos negócios no segmento econômico”, diz Martins.
Na primeira fase, de março de 2009 a maio deste ano, o pro grama do governo federal teve mais de 1 milhão de contratos assinados e financiamentos de R$ 53,1 bilhões. Na segunda fase, que começou no último mês de junho, já foram desembolsados R$ 20,6 bilhões, O to tal previsto são R$ 125,7 bilhões até 2014. Desse montante, R$ 72,6 bilhões são subsídios do Orçamento e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e outros R$ 53,1 bilhões aparecem sob a forma de empréstimos bancários.
São esses números que têm atraído a atenção das construtoras. Há quatro anos, a Cyrela criou a Living, empresa voltada para a construção de casas populares. Hoje, a nova empresa é responsável por 35% da receita total da Cyrela e a projeção é que represente 50% dentro de dois anos.
Rodrigo Martins, da Rossi, ressalva, porém, que o crédito farto ajuda, mas não é garantia de sucesso nessa área. Neste seg mento, diz ele, a gestão precisa ser mais precisa do que na construção de casas de alto padrão ou de imóveis comerciais. Uma das estratégias adotadas pela Rossi neste quesito foi a padronização de projetos. “Com peque nas adaptações, utilizamos o mesmo projeto em vários empreendimentos. Economizamos tempo, pois os projetos são aprovados automaticamente, e economizamos mão de obra por que não precisamos de vários projetistas”, explica Martins. Segundo ele, a estratégia da Rossi para ganhar mais espaço no seg mento econômico é “simplificar a operação e aumentar a eficiência e rentabilidade”.
Gargalo
Mas, se as projeções para as vendas de imóveis destinados à ba se da pirâmide são positivas, as construtoras voltadas a este seg mento não vão escapar de um problema comum e não só nesta área: a falta de mão de obra. “Faltam mão de obra e infraestrutura para sustentar uma expansão maior”, analisa Rodrigo Campestre, consultor do segmento imobiliário. Ele lembra que, além da escassez de profissionais, o setor ainda tem de disputar mão de obra com grandes empreendimentos como os que estão sendo realizados para a Copa do Mundo e para os Jogos Olímpicos.

NA ESTRATÉGIA DA LIVING, O CÉU É O LIMITE

Construtora de baixo custo muda para responder por 50% da receita da Cyrela até 2013
Construir imóveis de baixo cus to em um cenário de alta competitividade e escassez de terrenos pode ser tarefa difícil quando se quer margens de lucro relevantes. O caminho escolhido pela Living, braço econômico da Cyrela, é apostar no aumento da verticalização de seus empreendimentos e na padronização de projetos. “Estamos reestruturando nossas operações e a meta é que o segmento passe, dos atuais 35% para 50% da receita do grupo”, afirma Marcelo Meio, diretor de engenharia da Living. O executivo, que está há apenas sete meses no posto, tem que conciliar a mudança de rumo nos negócios a uma severa política de redução de custos.
Meio afirma que uma das estratégias da companhia é reforçar as operações onde a empresa já está consolidada, caso das regiões Sul, Sudeste e Norte do país. “Isso não significa que não teremos uma expansão dos negócios em outras áreas. Mas, em um primeiro momento, vamos fixar raízes”, explica o executivo que tem sob seu comando 89 obras em andamento em todo o país.
Meio, engenheiro por formação, tem aproveitado a experiência pessoal para melhorar os números da companhia. “Estamos trabalhando com um ponto máximo de verticalização. Sempre que a legislação permite fazemos prédios mais altos. Cada andar a mais significa ganhos para a companhia”, explica ele, que as vezes têm projetos barrados por questão de espaço aéreo.
Outra estratégia da diretoria é padronizar os projetos dos empreendimentos. “Usamos praticamente os mesmos esqueletos na hora de construir, só adapta mos os projetos com questões de tropicalização. Por exemplo, um edifício em São Paulo não pode ser exatamente igual a um empreendimento em São Luis (MA)”, disse Meio, garantindo que as alterações são as mínimas possíveis para permitir ganhos de escala.
Os imóveis comercializados pela Living têm valores que oscilam entre R$ 100 mil e R$ 250 mil, mas a faixa que responde por cerca de 50% das vendas é a de unidades com preços entre R$ 120 mil e R$ 180 mil, o seg mento ‘Eco’ da companhia. “O programa Minha Casa, Minha Vida é um aliado dos nossos negócios e acredito que ainda vai impulsionar o crescimento deste segmento da construção civil por um bom tempo”, avalia.
Segundo Meio, além do desafio do controle de custos em tempo integral, a questão da mão de obra é um agente que merece atenção. “Temos treina mentos constante para fidelizar nossos trabalhadores os custos com mão de obra representam 50% do valor total de uma obra”, diz.

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