http://www.globalgarbage.org/praia/downloads/Tese%20Doutorado_Fernanda%20Terra%20Stori.pdf
RESUMO
Apresentamos neste estudo o caso da comunidade caiçara da Ilha Diana, a
qual passa por transformações devido ao declínio da pesca artesanal e à
expansão do complexo industrial-portuário no estuário de Santos - SP.
Discutimos quais elementos configuram adaptatividade e resiliência no
sistema socioecológico que envolve a comunidade da Ilha Diana para que a
sustentabilidade seja construída. Para tal, foram objetivos: (1) a
identificação qualitativa dos aspectos da cultura caiçara, dos
mecanismos sociais e práticas tradicionais de manejo dos recursos
pesqueiros e suas transformações; (2) a analise das lógicas de ação da
rede sociotécnica formada pela emergência da controvérsia do
licenciamento ambiental de um moderno terminal portuário. Para a
primeira análise, nos valemos de uma abordagem etnoecológica
entrevistando 20 residentes da Ilha Diana (9% da população total), com
idades variando de 18 a 90 anos, respeitando-se a equidade entre
gêneros. Para a segunda análise, foram entrevistados dez atores sociais
envolvidos na controvérsia da expansão portuária. Foram identificados
aspectos próprios da cultura caiçara no território da Ilha Diana, como
sua organização social interligada à pesca e o auto-reconhecimento de
sua cultura. Identificamos sete práticas de manejo pesqueiro baseadas no
conhecimento ecológico local, quatro mecanismos sociais atrelados às
tais práticas, três processo de inovação tecnológica e a extinção de uma
prática de pesca tradicional seletiva. A perda intergeracional de
conhecimento ecológico e dos mecanismos sociais atrelados pode ocasionar
na redução de resiliência. Todavia, os mecanismos sociais identificados
poderão contrabalançar aspectos negativos do processo de mudança e
crise, promovendo a reorganização do sistema. Também identificamos que
as lógicas de ação comerciais e industriais, visões de mundo dominantes
no território estudado, interferem negativamente na manutenção das
práticas pesqueiras e mecanismos sociais caiçaras da Ilha Diana. As
lógicas cívica, doméstica e de opinião apenas exercem o contraponto às
visões dominantes, na forma de condicionantes socioambientais aos
processos de licenciamento de empreendimentos com significativo impacto
ambiental. Desta forma, não foi observado um real processo de tradução
do licenciamento analisado, apenas um processo de negociação de
condicionantes, que resultou em desconfianças, conflitos, demonstrando
que a rede em questão não é ampla, fortalecida, vigilante e
transparente. Conclui-se que a promoção de resiliência no sistema
socioecológico estudado dependerá da capacidade adaptativa da
comunidade, a partir de práticas socioeconômicas sustentáveis, como
aquelas baseadas na valorização de sua cultura. Dependerá também de que
os projetos de expansão portuária no estuário de Santos sejam debatidos
com ampla participação popular, de forma transparente, com vistas a
fortalecer as redes e elevar sua vigilância.
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