quinta-feira, 25 de novembro de 2010

FINANCEIRO – A Revista do Crédito

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FINANCEIRO – A Revista do Crédito
Edição 65, Setembro/Outubro 2010
MEIOS DE PAGAMENTO
VITRINE VIRTUAL
Plataformas on-line disputam mercado do comércio eletrônico brasileiro de olho na expansão do consumo
Por Juliana Jadon
Promoção imperdível: TV de plasma de 52 polegadas a R$ 4 mil. Era a primeira vez que o internauta acessava aquele site, mas uma oferta daquelas não se despreza. Informou os dados solicitados, inclusive a senha do cartão de crédito. Pagamento à vista, algo perdoável considerando o superdesconto. A entrega seria efetuada em até sete dias úteis. Dez dias depois, nada de a televisão chegar. Mais um a cair no conto do vigário eletrônico.
Quem a relata a história já comum no comércio eletrônico é Wanderson Castilho, especialista em crimes digitais e detetive virtual. Nesses casos, o dinheiro é embolsado por aqueles que especialistas em crimes virtuais chamam de “fantasma”. Eles assombram a internet.
Comprar em lojas on-line pode ser um medo constante para muita gente. O risco é justamente esse: pagar e nunca receber. Segundo Castilho, são dois os principais receios dos internautas. Primeiro o produto não chega como prometido. Segundo o risco de abrir dados pessoais e financeiros. A empresa de segurança Symantec aponta o Brasil em terceiro lugar na lista de países com atividades “malévolas” na internet, como spam, tentativas de trapaça on-line e outros tipos de crimes virtuais. E isso abre as portas para um mercado potencial para as provedoras de plataformas de pagamento seguro.
No caso das plataformas Pagamento Seguro (do Uol) e Mercado Pago, por exemplo, nenhum dado confidencial do comprador pode ser visto por quem vendeu. Esse receio não é gratuito. A Polícia Federal estima que os golpes na web somam um rombo de R$ 500 milhões por ano. O número de fraudes na internet cresceu 6,5% no País entre 2004 e 2009, de acordo com o Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança no Brasil. Castilho mesmo solucionou mais de 500 crimes virtuais, dentre eles 60 são financeiros.
Isso não ocorre com internautas mais cautelosos como o designer Pedro Fontana. Sentado no chão do jardim de casa, rodeado de plantas e com o notebook sobre as pernas cruzadas, ele compra no eBay, maior shopping virtual do mundo. Busca mensalmente equipamentos para seu trabalho que não encontra no País. Na Amazon, outra loja virtual dos Estados Unidos, adquire livros usados com 10% de desconto. No Mercado Livre, portal de comércio eletrônico nacional, também barganha artigos. Tudo isso com a segurança de que os produtos vão chegar conforme o acordado com o vendedor. Caso contrário, ele não precisará pagar a conta ou terá seu dinheiro de volta, pois utilizou nas compras uma das plataformas de pagamento seguro.
Em aquisições fora do País, Pedro utiliza a plataforma de pagamento seguro Paypal e no Brasil o Mercado Pago. Ele faz parte dos 17,6 milhões de internautas brasileiros que compraram produtos pelo canal on-line em 2009 e representam 26% dos navegantes virtuais do País. É essa fatia de consumidores que as grandes empresas que processam os pagamentos eletrônicos na internet querem como clientes e os lojistas virtuais também.
No ano passado, o comércio eletrônico no Brasil alcançou faturamento de R$ 10,6 bilhões, um crescimento de 30% ante os R$ 8,2 bilhões de 2008. O resultado faz parte do relatório “WebShoppers”, realizado pela empresa especializada em informações de e-commerce e-bit. De acordo com a pesquisa, o principal fator que contribuiu para esse crescimento é exatamente a maior confiança dos consumidores em adquirirem produtos on-line. O Índice de Confiança aponta que 86,3% das pessoas que fizeram compras pela rede durante o ano de 2009 sentiram-se satisfeitas. Neste ano, a previsão é ainda maior e aponta que cerca de 23 milhões de brasileiros comprem pelo canal.
A primeira experiência de compra de Pedro na internet foi no lançamento do eBay, em 1995. Na época, para não correr o risco de pagar por algo que não chegasse em casa, optou pelo cartão de crédito, conciliando a data da entrega do produto para antes da do pagamento. Ele fez exatamente o que Castilho aconselha para quem ainda hoje não usa plataformas de pagamento seguro nas compras pela internet, seja pelo custo do uso ou por falta de costume. Assim, se o produto não chegar no prazo certo ou conforme o acordado, é possível cancelar o pagamento.
Compras seguras
Se internautas brasileiros como Pedro se sentem seguros em comprar na web, parte dessa confiança foi proporcionada pelas plataformas de pagamento seguro, disponibilizadas pelas lojas. No ano passado, foram realizadas mais de 3,1 milhões de transações no Mercado Pago, movimentando um volume superior a US$ 383 milhões, cerca de 15% da movimentação total de pagamentos do Mercado Livre no ano.
Para Marcelo Coelho, diretor do Mercado Pago no Brasil, o crescimento do número de transações processadas pela empresa é orgânico e acompanha a alta na demanda pelo comércio eletrônico nacional. Só no primeiro semestre deste ano o volume de transações processadas via Mercado Pago cresceu 132,9%. No ano passado foram cerca de 29,5 milhões de itens vendidos para pessoas como Pedro por essa vitrine virtual, uma alta de 39% sobre 2008. A taxa de crescimento no volume de produtos comercializados é quase o dobro da apresentada no ano anterior.
Em abril deste ano, o Mercado Pago soltou as amarras do Mercado Livre e passou a ser utilizado em outros portais, a maioria deles era de vendedores que expunham seus produtos no próprio Mercado Livre, mas que já possuíam sua própria venda na web. Somente no primeiro dia de liberdade, a plataforma processou cerca de 800 mil transações.
Com isso, os lojistas proporcionaram aos clientes, além de segurança na compra, a facilidade de poder pagar em dez diferentes opções de pagamento – entre cartões, depósito e em até 18 parcelas. Para esses lojistas, o custo é de 4,99% sobre o valor da venda. O comprador que quita a aquisição no ato da compra não paga valor adicional ao Mercado Pago.
Esse benefício é recente e está disponível desde 16 de julho. Caso o consumidor não quite as parcelas até o final do contrato, quem paga pela inadimplência é o Mercado Pago. Para o comerciante (ou destinatário do dinheiro), a liberação dos valores poderá ocorrer a partir de dois dias, dependendo da atuação. Dessa maneira, Coelho segue a
política que a empresa já adotava em países como Chile e Argentina, nos quais já podia ser utilizado por outros canais de comércio eletrônico.
Já Ricardo Dortas, diretor da PagSeguro, solução de pagamentos on-line do Uol, comemora mais de 60 mil lojas cadastradas e cerca de seis milhões de usuários. A maioria são micro e pequenas empresas instaladas no universo virtual. Em novembro do ano passado, a plataforma foi relançada após mais de um ano e meio de projeto. Uma equipe própria de desenvolvimento reescrevia os códigos da plataforma e praticava uma série de testes. Tudo para garantir que a plataforma funcionasse da forma adequada.
Um grupo especializa do acompanha qualquer caso de compra com problemas. Dortas lembra que de todas as reclamações que o PagSeguro recebe – tanto de produtos que não foram entregues, quanto em desacordo do combinado –, quase 80% se resolvem de maneira amigável do comprador com o vendedor. “Recomendamos que o comprador fique atento ao que a loja informa sobre o prazo de entrega”, diz.
Dortas é responsável por outras unidades de negócios no Uol. Como todo gestor, passa parte do tempo checando relatórios e o andamento das vertentes sob seu comando. Na outra metade, elabora estratégias, conversa com as equipes e ajuda outros gestores. Ele trabalha com metas mensais, em função de receitas ou da combinação de resultados. Quando os resultados não são o esperado, Dortas procura entender onde está o problema para retraçar novos planos.
Outra possibilidade de uso dessas plataformas é o envio e recebimento de dinheiro por e-mail. O internauta pode, por exemplo, fazer pagamentos diretamente no site do Mercado Pago para outros usuários da plataforma, sem precisar compartilhar dados cadastrais ou financeiros com terceiros.
Brasil promissor
O mercado de plataformas de pagamento eletrônico deve ser aquecer mais por aqui ainda em 2010. Até a PayPal, empresa de mais de 200 milhões de clientes no mundo que nasceu no eBay instalou um escritório no Brasil neste ano. A PayPal tem atualmente 84 milhões de contas ativas em 190 mercados e operações com 24 moedas.
No Brasil, mesmo sem nenhuma presença em portais brasileiros, a companhia atingiu a marca de mais de dois milhões de clientes em 2009 que compraram cerca US$ 200 milhões em produtos no exterior. O presidente da companhia no Brasil, Mário Mello, promete ainda em 2010 lançar uma plataforma de pagamento para competir com os principais players do mercado nacional.
Mello ingressou no comando da Paypal Brasil em maio deste ano. Antes, ele foi vice-presidente do banco Safra e ocupou diversos cargos na Visa América Latina e no banco Real. Também foi membro do conselho da Cielo, CBSS e Fidelity Sistems. Uma das missões de Mello é conversar com lojas virtuais para que adotem a plataforma no lançamento. A gigantesca empresa no País funciona com uma estrutura de startup.
Diferentemente dos 1.440 funcionários do Mercado Pago espalhados pelos seis países na América Latina, Mello deverá ter uma equipe com 20 funcionários até o final do ano no Brasil. Reúne-se quase que diariamente com o RH para abordar esse assunto e conversa com a área de tecnologia para saber como anda a estrutura da plataforma nacional. Mello baseia-se na experiência internacional. Em pesquisa efetuada pelo eBay no ano passado, a empresa levantou que 18% americanos só compram na web devido ao uso do Paypal. No mercado inglês, esse montante é mais expressivo e chega a 36%. Tudo que Pedro compra no eBay passa pelo Paypal e é pago à vista. Os vendedores o pontuaram como um comprador “excelente”. Com a subsidiária brasileira, acredita que ocorrerá o mesmo.
Protegido até demais
A segurança em comprar é tamanha que Pedro obteve por impulso itens que nunca utilizou. Além de designer ele desenha prototípicos de produtos. Há três anos, solicitou por US$ 60 um assessório de um piloto de avião do Estado de Washington (EUA). Era uma espécie de compasso escolar gigante que servia para cortar madeira em círculos e ovais. Com aquilo, ele pode fazer uma mesa redonda, um porta-copo, ou algo circular. Mas até hoje só lhe serviu para fazer volume em casa. Comprou também um scanner USB usado por US$ 49. A ideia era digitalizar as imagens dos mais de cinco mil slides guardados num armário de casa e colocar em um HD externo. Um novo sairia por US$ 150.
Pedro pede que a entrega da maioria dos itens comprados no exterior, seja feita por United States Postal Service (USPS). O serviço custa 25% do preço de um Sedex nacional. As miudezas, prefere que cheguem como carta e o custo fica mais baixo. A próxima compra lá fora já está programada. Vai comprar uma peça grande que serve para moldá-los. Por coincidência, um amigo vai se mudar de lá para o Brasil. Pedro já pensou até mesmo em colocar no mesmo contêiner da mudança do colega o artefato.
Com a chegada oficial do PayPal, o designer Pedro não terá de se cadastrar novamente e a disputa por clientes vai aumentar. Dortas, da PagSeguro, considera essa competição saudável. “Surgirão novos participantes, mas isso faz com que o comércio eletrônico seja mais seguro”, considera. O shopping de Pedro é a internet, e neste ano, no Brasil, deverá crescer na mesma intensidade do ano passado. Pedro poderá ter 30% a mais de lojas para encontrar produtos.
BUTIQUE
O mostruário virtual de Natan Sztamfater, diretor da PortCasa, é de cama, mesa e banho e decoração. No final de 2007, o executivo enxergou oportunidades no plano virtual. Antes de criar o quiosque na internet, ele conversou com a Visa e Redecard e fechou acordos para que os clientes pudessem comprar por esses canais. Mas muitos erros ocorriam no processamento dos pagamentos. Sztamfater também perdia clientes que reclamavam que seus cartões não eram aceitos.
Seis meses depois, ele reestruturou o portal, lotou as prateleiras de produtos com marcas conhecidas e outros artefatos – como coisas para bebês – e fechou a parceria com a Braspag para ser a porta de pagamento. Sztamfater inseriu no portal o gateway internacional de pagamentos “O pagador”, pelo qual os clientes podem usar diversos meios de pagamento on-line, como cartão de crédito (todas as bandeiras), débito, boleto bancário, parcelamento, entre outros.
A Braspag também fornece relatórios diários que concentram os dados das compras. Além disso, a própria empresa ajuda na venda de produtos. Atualmente, a Braspag possui cerca de 1.100 clientes, entre eles: Carrefour, Votorantim, Sky, Netshoes e B2W (Americanas. com, Submarino, Shoptime). Em agosto promoveu a quinta edição do Saldão na internet, portal no qual os principais varejistas virtuais brasileiros expõem produtos com gordos descontos. Ele ficou no ar por cerca de 15 dias e Sztamfater aproveitou para colocar itens em liquidação no canal.
Renan Fortes, gerente de projetos da Braspag no Brasil, estima que a venda das soluções da empresa cresça cada vez mais na América Latina. Já a PortCasa registra um crescimento anual de 100%. Hoje são cerca de cem mil clientes cadastrados no PortCasa. Os concorrentes dele são os grandes lojistas virtuais, como o PontoFrio.com, por exemplo.
Para se diferenciar, Sztamfater colocou à disposição dos compradores telefonistas especializadas em decoração, prontas para falar coisas como a cor da colcha a ser colocada na cama e dar sugestões de presentes, além de apontar os pontos positivos em cada um dos produtos. Há também um setor financeiro, uma logística e uma montanha de pedidos que não param de chegar. A loja virtual de Sztamfater virou uma empresa real.

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