sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

repassando Desabrigados do 4º G-CAM (Comuna Osvaldão)

Desabrigados do 4º G-CAM (Comuna Osvaldão) preparam carta contra mudança de alojamento



Por: Wilson Mendes 26/01/2011

Vítimas das chuvas vão enumerar necessidades para sobreviver no abrigo e os seus motivos para deixar, ou não, o local. Assistência Social promete continuar negociando
A terceira tentativa de transferência dos moradores do abrigo 4ºG-CAM (Barreto) para o 3ºBI (Venda da Cruz) fracassou. Abrigados no local desde abril do ano passado, depois das chuvas que devastaram áreas da cidade, os moradores firmaram pé e disseram que só deixam o local para suas casas definitivas. Equipes da Assistência Social continuam negociando e esperam, na terça-feira, a entrega de carta das vítimas enumerando suas necessidades e motivos para deixar ou não o local.
A empreitada da Prefeitura para unificar os abrigos começou no dia 4 de janeiro, quando houve a primeira tentativa de transferência das 30 famílias do Barreto para a Venda da Cruz. O município alega que poderia atender melhor as vítimas num só abrigo, já que o número de pessoas nas unidades está reduzido. Abrigados do G-CAM, no entanto, dizem que condições sanitárias e humanas não são melhores no outro abrigo e que pretendem ficar onde estão até que os apartamentos fiquem prontos. O prazo para entrega das unidades é 2012.
“Não vamos para lá. Só passamos dos portões do G-CAM para ir para nossas casas. Nós tínhamos casas que construímos à nossa maneira, com móveis, com liberdade. Agora querem que a gente vá para o 3°BI sem levar quase nada do que conquistamos nesses quase 10 meses. A Prefeitura não oferece uma solução definitiva. Preso é que entra num lugar só com a roupa do corpo”, reclama Simone Oliveira, uma das lideranças do abrigo, criticando o programa de transferência, que permite às vítimas levarem consigo apenas poucos pertences como um colchão, um ventilador, um televisor e um aparelho de DVD.
Força – De todas as tentativas de retirada, esta teria sido a mais tranquila. Pela primeira vez, a Prefeitura solicitou aos abrigados um documento enumerando as suas necessidades, tanto para a possibilidade de deixarem o local quanto mantendo firme a vontade de ficarem no atual abrigo.
“É um grande avanço. Começamos a negociar de verdade com eles, pela primeira vez conseguimos esta abertura”, frisou Fernanda Dall’Agnol, coordenadora do Centro de Referência Especializado em Assistência Social (Creas).
Para um dos mentores políticos do movimento de resistência, a iniciativa do Executivo de solicitar um documento com os anseios dos moradores é o início do reconhecimento de força do grupo. Em reunião permeada por palavras de ordem como “ocupar, resistir e construir”, a proposta do governo municipal foi aceita.
“Além de conseguirmos o acordo, nenhuma família quis deixar o abrigo. Vamos nos reunir para fechar as duas cartas, uma sobre o que precisamos para sair e outra com o que queremos de investimento aqui. A comunidade Osvaldão (como foi batizado o abrigo) não queria nem escrever as propostas para sair, mas vamos sentar e pensar sobre tudo isso. Vamos manter a luta de resistência até o fim”, alertou Marcelo Machado, do Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD).
Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o vereador Renatinho (PSOL) foi até o local apoiar os ocupantes que resistem a deixar o abrigo.
“Agora eles já são uma comunidade e estão buscando seu jeito de garantir o seu direito. Se o Executivo não fez nada até agora, como vão acreditar que passarão a fazer?”, questionou o parlamentar durante a visita.


Questão é de logística, diz Prefeitura
Uma das bandeiras levantadas pelos ocupantes do 4°G-CAM é a segurança, que eles afirmam estar em baixa no abrigo da Venda da Cruz.
“Fui ameaçada de morte sem qualquer motivo. No alojamento de madeira onde querem nos abrigar, até siglas de facções criminosas foram escritas. Não fizemos nada para nos recebermos assim lá”, se queixa Simone Oliveira.
Na madrugada de ontem foi registrada uma briga no 3ºBI, envolvendo um casal e uma terceira pessoa. A equipe de segurança – serviço que não existe no G-CAM – minimizou o contratempo e disse que pequenas discussões acontecem, “em qualquer comunidade”.
Decisão – Apesar dos contratempos, a Prefeitura afirma que mantém a decisão de transferência das famílias para o 3º BI como questão de logística: unificar para melhorar o atendimento aos desabrigados que ainda permanecem em abrigos, apesar de todas estas famílias receberem aluguel social. No total são 3,2 mil famílias que recebem o benefício e 3,1 mil usam para o fim que se presta. Está sendo viabilizada a construção de mais 7 mil unidades habitacionais voltados aos desabrigados na cidade.
Em relação à situação de ontem, a Prefeitura informa que se preparou, com mandado judicial, para transferir três famílias que tem pessoas doentes e outras duas famílias que disseram para Assistência Social que queriam ser transferidas para o 3º BI mas estavam sendo ameaçadas. No entanto, diante da resistência, a Procuradoria Geral do Município decidiu suspender a ação e transferir todos juntos em outra ocasião, como determinou a Justiça.

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