segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Choque de ordem e PM proíbem comércio nas favelas

Choque de ordem e PM proíbem comércio nas favelas
Patrick Granja
“Como o morador vai conseguir viver?”
O choque de ordem segue destruindo casas em bairros pobres, roubando e encarcerando trabalhadores e atacando moradores de rua no Rio de Janeiro. Todas as ações criminosas da Secretaria de Ordem Pública são acompanhadas de perto pela PM, principalmente nas regiões ocupadas pelas UPPs.
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Pavão-Pavãozinho: bar é fechado por agentes do "choque de ordem"

Nesses bairros pobres, o toque de recolher imposto pelas Unidades de Polícia Pacificadora agora está sendo incrementado pela perseguição aos comerciantes que mantém seus estabelecimentos abertos após as 22h. No Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, zona sul do Rio, o choque de ordem e a PM circularam pelo morro na madrugada do dia 11 de junho e obrigaram os comerciantes a fechar 14 tendinhas, como são conhecidos os bares e armazéns nas favelas. Além disso, outros 20 estabelecimentos foram notificados, causando revolta entre os comerciantes.

— Trabalho nesse local há 25 anos e nunca fui incomodado. Muito pelo contrário, essa tendinha abastece a casa de vários vizinhos meus. Muito do que a gente vende aqui tem o mesmo preço do supermercado. Eles dizem que o nosso negócio é ilegal porque não tem alvará, mas na favela é assim mesmo. Assim como nenhuma casa tem escritura, porque é tudo posse por usucapião, os bares também não têm alvará. Para tirar essa documentação é muito caro e a prefeitura dificulta em tudo a vida do comerciante. Se eles não respeitam quem trabalha, respeitem pelo menos a história da comunidade. Como o morador vai conseguir viver aqui pagando luz, gás e IPTU, ganhando um salário mínimo miserável e ainda não tendo o nosso comércio? — protesta o comerciante Jair da Silva Jardim, de 62 anos, morador do morro Pavão-Pavãozinho desde 1965.

— Agora favelado não pode ter vida noturna também, nem no fim de semana. Toque de recolher é coisa de ditadura. Eles não podem fazer isso. E ainda por cima, o comerciante vai ficar sem seu ganha-pão pra polícia poder prender todo mundo no morro dentro de casa à noite. Meu filho é serralheiro, um homem honesto, que tem família e trabalha até 10 horas por dia. Agora, ao invés de tomar sua cerveja, ele tem que ficar em casa, porque a PM esculacha qualquer um que andar pelo morro na madrugada — conclui.

No Vidigal, também na zona sul, no dia 24 de maio, uma ação do choque de ordem, com o apoio da Coordenadoria de Controle Urbano (CCU), da Polícia Militar, da 3ª gerência de conversação e da Guarda Municipal, derrubou dois quiosques e uma oficina mecânica para motos. Os dois quiosques funcionavam como bares e, como no Pavão-Pavãozinho, ficavam abertos após as 22h.

No morro dos Macacos, em Vila Isabel, um dos próximos bairros pobres cotados para receber a UPP na zona norte, o choque de ordem atacou na manhã do dia 27 de maio com mais de 150 homens. No total, 17 construções foram destruídas, entre bares e casas, e nem o famigerado aluguel social foi dado aos moradores, que tiveram que ir para os abrigos da prefeitura com uma mão na frente e outra atrás.

Operações do choque de ordem também foram deflagradas no morro da Babilônia e na Ladeira dos Tabajaras antes da chegada das UPPs, revelando a estratégia conjunta dos gerenciamentos de turno no Rio, para atacar o povo por todos os lados, tirando-lhe o trabalho, a casa e, principalmente, a dignidade.

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