quarta-feira, 9 de junho de 2010

Relembrando os velhos tempos

04/05/2007

Diário de Copacabana - segunda-feira 30/04/2007

Relembrando os velhos tempos

No último dia do Gabinete Móvel em Copacabana, comecei por visitar minha mãe, Dona Marielza, moradora do bairro há muitos anos. Ela adora Copacabana porque tem tudo perto de casa: bancos, hospitais e comércio. Mas lamenta as transformações que sofreu, para pior. O morro Pavão-Pavãozinho, por exemplo. Era verde, hoje está repleto de barracos. "E as ruas estão cheias de pedintes e cheiram a urina. A violência também aumentou. A mercearia aqui do lado foi assaltada duas vezes. O morro não tinha barracos. Agora, vejo de casa as balas traçantes passando. Mas não quero sair do bairro e, sim, que ele melhore", diz ela.

Praça do Lido abandonada

Amilcar Paulo, de 70 anos, antigo morador da Rua Belford Roxo, também se queixa dos novos tempos. Durante 30 anos levou filhos e netos para passear na Praça do Lido que era limpa, florida e com brinquedos. Hoje a situação é diferente: "Isso aqui deixou de ser um ambiente de famílias. Os bancos estão imundos e servindo de dormitório de mendigos. Há lixo espalhado pelo chão e o telhado vaza chuva. Fora os animais, gatos e pombos, que defecam em tudo", diz.
O logradouro fica atrás da Escola Municipal Roma, que segundo os moradores, não é usado como ponto de recreação. Encontrei Antônio Lourenço do Rio, outro morador que reclamou da situação dos banheiros públicos. “Os sanitários administrado pela Fundação Parque e Jardins fecham duas horas antes da praça. Nesse intervalo, ninguém pode ter vontade de ir ao banheiro, parece piada. Por isso alguns usam o muro do jardim e fica um fedor só”, lamenta.
Para usar o banheiro o cidadão tem que pagar R$0,50. A servente responsável, Lance Teixeira de Souza, trabalha há 15 anos no lugar. “Não tenho autorização para deixar a chave com os guardas municipais que fecham a praça. As vezes os banheiros são usados por moradores de rua. É ruim porque eles deixam tudo sujo, mas se pagam não posso impedir a entrada”.

Bebês sem brinquedos

Gabriela Rangel reclamou da falta de brinquedos apropriados para bebês na Praça do Lido, na orla da Praia de Copacabana e nos demais logradouros do bairro. “Na orla, foram os novos quiosques, que acabaram com o espaço destinado ás crianças. "A criança hoje não é respeitada. Fizeram os quiosques na orla e tiraram os espaços dos bebês. Essa praça (do Lido) é mesma coisa. Se Copacabana, que é na Zona Sul, não tem uma área para crianças, o que dirá outros bairros da cidade".
Depois que sofrer ameaças de menores de rua, Amélia Alves dos Santos, de 88 anos, tem medo de freqüentar o local. "Os guardas municipais não fazem nada. Eles não circulam. Só saem do seu abrigo quando são solicitados por alguém. Quase fui agredida por um menino que cheirava cola. Por isso agora a praça é apenas passagem para a casa do meu filho", disse.

Na rua há 15 anos

Sentada na calçada do lado da Rua Ronald de Carvalho estava Joana Sebastiana. Moradores contaram que ela vive no local há 15 anos. Seu único bem é uma cadeira que foi jogada no lixo por um escritório. Envolta em sacos plásticos, ela vive de esmolas e, ainda assim, cria três gatos. “Os agentes da prefeitura tentaram removê-la várias vezes para um abrigo, mas ela sempre acaba voltando para o mesmo lugar”, contou a moradora Carla Oliveira.

Galeria Menescal

Na Galeria Menescal, que liga a Avenida Nossa Senhora de Copacabana à Rua Barata Ribeiro, o comerciante Klaus Sheyer Junior lamenta ter medo de andar com a esposa à noite pelas ruas do bairro e prefere fazer programas durante o dia. “A degradação do bairro fez a galeria perder a fama de oferecer boas compras. Os turistas vêm, mas não compram. O que vejo é mais o turismo sexual. Não quero sair de Copa, mas a situação podia melhorar".

Numa outra loja conheci Renne Popontonatis, uma francesa que vive no Brasil há mais de 40 anos. Com opinião diferente das de Klaus, ela atribui a redução dos clientes à construção dos shoppings, que ofereceram maior comodidade e conforto.

Figura carismática da Galeria Menescal é o porteiro do Edifício Menescal, Severino Joaquim dos Santos, de 72 anos. Paraibano, veio para o Rio há 30 anos, em busca de trabalho. No ano passado ajudou o grupo Sociedade dos Amigos de Copacabana a pedir o tombamento da galeria comercial. “Em junho a galeria completa 61 anos. Quando comecei ela não tinha grades. Mas o risco de assaltos e o vandalismo contra as vitrines nos obrigaram a isso”.

Canhões de cultura

Há anos os canhões do Forte de Copacabana não são mais usados para proteger a Baia de Guanabara. Hoje, como diz o comandante, coronel. Edson da Silva de Oliveira, os canhões viraram armas para atrair turistas e disseminar atividades sócio-culturais. Desde que assumiu, em setembro de 2005, o militar já implantou mais de 40 projetos, de oficinas de trabalho a encontro de corais de idosos. “A mudança aumentou a visitação de 50 mil para 200 mil pessoas por mês, elevando a arrecadação de R$ 200 mil para mais de um milhão. Mas não podemos fazer o Rio porta de entrada do turismo sem qualificação profissional. Criei cursos profissionalizantes em parceria com o Senai. Quem não optar pela carreira militar deixa o quartel com uma profissão", diz.

Além dos projetos profissionalizantes, o coronel. Edson reformou os 120 itens do acervo do museu do Forte, recuperou o telhado e restaurou imagens sacras da igreja Bom Jesus de Coluna, que agora expõe num dos salões da unidade. “Com pouca verba e excesso de vontade consegui mudar o perfil dos soldados e a relação com a comunidade. Em dias de eventos como encontro de escritores lotamos o Forte. São mais de 400 pessoas participando”, revela.

Falta a “resolvedoria”

Para o presidente da Associação de Moradores de Copacabana, Horácio Fernandez Magalhães Gomes, o bairro precisa de ações eficazes para resolver problemas como iluminação deficiente e segurança. “Não precisamos de grandes intervenções, apenas manutenção. A ouvidoria funciona bem, mas a 'resolvedoria' não anda. O refletor em frente ao Hotel Othon está desligado há duas semanas. Os técnicos da RioLuz dizem que não têm material. Sem luz, o risco de assaltos aumenta”.

Outro problema apontado por Gones foi a falta de políticas públicas para resolver a questão dos menores de rua espalhados pelo bairro. “O carente é problema da Prefeitura e o delinqüente, do Estado. Mas essa linha é tênue. O menor é um de todos e não vejo nada concreto acontecer”.

Sobre a construção dos novos quiosques na orla e a implantação do projeto Copabacana, Horácio Gomes reclamou da falta de diálogo do governo com a sociedade. “Nunca ouvi falar de blitz com dia e hora marcados. Nunca fomos procurados para conversar sobre o assunto. Constróem os quiosques, fazem blitz sem comunicar a população. É falha de planejamento”, criticou.

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Copacabana – sábado 28/04/2007

Babilônia – terra de craques

Na agenda de sábado estava marcada visita ao morro da Babilônia, no Leme, terra de craques como Neném e Benjamim, ídolos do futebol de praia, e o folclórico Galocha, que atazanava a vida dos zagueiros rivais do Flamengo. Às duas da tarde, começamos a subir a ladeira Ary Barroso. Chama atenção
a imponência de algumas casas na principal via de acesso à comunidade. A Babilônia é bem diferente da maioria das favelas da cidade. Quem vira à direita, na ladeira Ary Barroso, dá de cara com o Chapéu Mangueira. Para entrar na Babilônia é só seguir pela esquerda. Depois da curva, já se pode ver a ocupação desordenada do morro.
O líder comunitário Alvaro Maciel conta que a ladeira fazia parte do bairro formal do Leme. Aos poucos, foi crescendo a favelização do espaço. Um crescimento que os líderes estão lutando para conter. “Mas a Prefeitura não chega junto, não faz a parte dela. Nós sempre avisamos à Prefeitura sobre as invasões, mas ela não vem aqui derrubar os barracos. A gente fica numa situação complicada. Parece que estamos contra as pessoas. Não é isso. Sabemos que o crescimento vai prejudicar a todos. Não vai ter água pra todo mundo. O esgoto vai escorrer. Não vai ter creche para todas as crianças. Temos que conter esse crescimento. Mas sem a ajuda da Prefeitura fica muito difícil”, reclamou Álvaro. Interessante constatar como são esclarecidas e articuladas as pessoas na Babilônia! Esclarecidas, sem os discursos chatos; articuladas sem ser panfletárias.

Morro e asfalto se misturam

Conheci também o Jair Mendes Ribeiro. Irmão do presidente da Associação dos Moradores da Babilônia, Isaías Bruno. Ele trabalha na praia do Leme, na barraca do Jack. Conhece a Cris, minha assessora, a família e os amigos dela há muitos anos. No Leme, morro e asfalto se dão muito bem, andam de mãos dadas. Além de inúmeras afinidades, morro e asfalto têm mais uma coisa em comum: não estão satisfeitos com a Prefeitura, simplesmente porque a Prefeitura não atende às necessidades de ninguém.
Logo na entrada da comunidade fiquei intrigada com uma casa inacabada. Começou a ser construída para abrigar as pessoas que seriam retiradas da área de risco da comunidade. Essa remoção fazia parte do Bairrinho, projeto de urbanização, infra-estrutura e edificações na Babilônia, orçado em R$ 7.580.466,66 e com prazo de 540 dias, conforme outdoor instalado pela Prefeitura no lugar mais visível da favela. Mas, há dois anos, sem explicação, a Prefeitura abandonou a Babilônia e mandou parar as máquinas, deixando para trás um rastro de obra inacabada, com muito buraco e infinitos transtornos.
Dos dez itens previstos no projeto, apenas dois foram concluídos – as escadarias da rua São Jorge e uma via rampeada para pedestres. O resto ficou por fazer. Quero saber para onde foi esse dinheiro. O pessoal da área de risco acabou tendo que morar na casa inacabada porque a chuva – como era previsto – levou os barracos da encosta. Hoje, eles vivem sem água nem luz numa casa sem reboco, que tinha tudo para ser bastante confortável, se houvesse um pingo de boa vontade do poder público.
Também não deu tempo para construir a pracinha. O espaço reservado à área de lazer é um entulho só. “Essa praça, do jeito que eles deixaram, representa
grande risco para as crianças. Outro problema é a rede de esgoto. Tem vala negra. Tem gente doente por causa do esgoto a céu aberto. Só tem obra de
fachada”, reclamou Jair. “Eu tive uma grande alegria no início dessas obras. Depois veio a frustração”, desabafou Álvaro. “Quando alguém aqui vai na Prefeitura para saber, eles dizem que só depois do Pan. Depois do Pan vem o Natal, o carnaval, a Páscoa...e nunca vai ter dinheiro pra cá.” A base da caixa d’água virou foco de mosquito. Mas os moradores da Babilônia são duros na queda. Fizeram um reservatório d’água em mutirão. São quatro mil pessoas que moram ali em harmonia.A Babilônia não tem posto de saúde. Nada de Programa Saúde da Família. Os líderes comunitários fazem um trabalho de prevenção - mais uma vez, fazem o trabalho que a Prefeitura deveria fazer. Os moradores são atendidos no posto de saúde do vizinho, o Chapéu Mangueira, ou vão até a Siqueira Campos ou para o hospital Rocha Faria, em Botafogo.

Na Babilônia da paz, a violência não tem vez

Além de grandes craques do futebol, o morro da Babilônia sempre foi celeiro de grandes líderes comunitários, como seu Lúcio e Bola, e também devemos citar Benedita da Silva, na comunidade vizinha. Essas pessoas deixaram uma herança de respeito. “Por conta desse trabalho que eles fizeram, hoje, nós somos fortes na comunidade, somos respeitados e não temos qualquer envolvimento com nada”, diz Álvaro.
Não há conflito na Babilônia. Não há balas perdidas. Mas os líderes se preocupam com o futuro dos adolescentes. Eles dizem que falta ocupação. Como em tudo que é lugar, querem um projeto para os garotos.
O projeto seria o ensino integral, gente! “Até os 14 anos, tem escolinha de reforço. Os jovens de 18 têm os programas do governo federal. Mas nesse
intervalo, de 14 a 18, eles não têm nenhum programa. Querem comprar um tênis, não podem. Querem namorar,engravidam a namorada. E têm que ajudar a família. Estão vulneráveis, em situação de risco. Nós, líderes comunitários, estamos sempre preocupados com o esgoto, a Light, as encostas e deixamos a desejar na área cultural. Temos que batalhar por um projeto cultural para esses meninos”, diz Álvaro.

Educação, palavra-chave

Há 16 anos, dona Percília, de 68 anos, dedica seus dias ao reforço escolar das crianças da Babilônia. Quem estuda de dia, vai à tarde pra escolinha da Tia Percília. Quem é do turno da tarde, freqüenta a escolinha de manhã. Tia Percília conseguiu construir a escolinha com apoio do hotel Le Meridien, da ong Viva Rio, de uma organização da Suécia e de alguns políticos. Percília tem 58 anos de Babilônia. Foi lá que criou dez filhos e viu crescer 28 netos e 17 bisnetos. Hoje nem todos moram lá. “Reunir a família toda tem um custo muito alto. Não dá".
Há três anos, a Prefeitura suspendeu o convênio com a escolinha de Percília. Sem um tostão da Prefeitura, a escolinha sobrevive dos recursos enviados por uma ong da Suécia. Atende a 68 crianças. Muitos meninos da comunidade ficam de fora porque não dá para atender a todos. Percília está aflita com o futuro dessas crianças. “O governo deveria se preocupar em prevenir e tudo começa pelo estudo. A Prefeitura tirou tudo. Se voltasse seria uma bênção. Os moradores estão ajudando. Tem muito menino indo pro tráfico. Mas nenhum dos nossos. Nossas crianças têm ocupação”.

Cinderela da Babilônia

Como todas as adolescentes, Jéssica Gomes Pereira tinha o seu sonho de princesa. Queria ver o filme A Bela e a Fera. Também sonhava em servir às Forças Armadas. Sem apoio, viu seu conto de fadas virar tragédia. Perdeu o irmão para a guerra do tráfico e ganhou uma barriga. Para ela e muitas outras meninas de comunidades carentes, planejamento familiar é um conceito abstrato. “Planejamento familiar? O que é isso? Não sei, não. Nunca ninguém me ajudou. Não tive apoio. Arrumei uma barriga”, lamenta Jéssica, hoje com 17 anos. Mas essa história pode ter um final feliz. A filha, que herdou o nome da mãe, já está com quase dois aninhos. As duas foram juntas assistir ao clássico da Disney. Jéssica mãe está matriculada no curso do Pan. Ganha R$ 175. Aprende inglês, cidadania e faz o curso de guia de turismo. Só não sabemos o que vai ser dela e de tantos outros jovens que mantêm as esperanças nesse curso depois dos Jogos. O futuro é incerto.

A política que destrói sonhos

Jair Mendes Ribeiro sonhava em ter uma padaria. Correu atrás. Fez um curso
de padeiro. Conseguiu trazer o programa Cozinha Comunitária para a Babilônia. A refeição para os moradores saía por R$ 0,50. Era bom para todo mundo. As mães compravam a quentinha para os filhos e saíam descansadas para o trabalho.
Em 2002, o sonho foi destruído pela briga política. “A Prefeitura e o Governo do Estado brigaram e levaram as máquinas. Aí vi que o interesse deles era a política e não ajudar a gente aqui. Eram quatro funcionários. ficou todo mundo desempregado”, lamenta Jair.

Roupa suja se lava em casa

A Associação de moradores da Babilônia é uma beleza. Tudo novinho, organizado, funcionando bem. Numa das salas fica o Centro Comunitário de Mediação de Conflitos. Esse centro se especializou em resolver os problemas da comunidade, como brigas de vizinhos, xixi do cachorro, construção de lajes, pensão familiar, briga de criança e um sem-fim de aborrecimentos, que não precisam cair no colo de magistrados para serem resolvidas. Se toda comunidade tivesse um centro desse, já diminuiria bastante o número de ações sem relevância que abarrotam o Judiciário. “São problemas que os moradores podem resolver sem chegar na Justiça. Resolvemos todo tipo de conflito. Eles mesmos tiram as conclusões sobre o que é certo ou errado. Só não chega queixa de furto. Furto aqui não tem”, garante Ailton da Silva Bichara, o coordenador do centro, que tem livros de Direito, doados pela Uni-Rio para os estudantes da comunidade que precisarem consultar. Não se vê sujeira nas ruas da Babilônia. A comunidade é um brinco, tudo limpinho, sem lixo espalhado como em outros lugares. O Ailton é também o responsável por toda essa limpeza. “Quando vejo lixo espalhado, escrevo e divulgo o nome do porquinho. Ninguém quer ter o nome vinculado à sujeira”. Cinco meses sem ver a cor do pagamento.

Os cinco agentes ambientais da Babilônia fazem um trabalho fundamental para a comunidade, o reflorestamento. Mas esse serviço não em sendo reconhecido nem recompensado pela Prefeitura. Há cinco meses o prefeito César Maia não paga o salário desses trabalhadores. “Estamos vivendo de bico. A gente faz reflorestamento das espécies e capina. Não deixamos de fazer o serviço porque a comunidade iria pagar um preço muito alto”, diz, consciente, o agente ambiental Alexandre Martins.

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Diário de Copacabana - sexta-feira 27/04/2007

População de rua, maior problema

Na quarta etapa do projeto Gabinete Móvel, reservada ao Leme e Copacabana, houve encontro com representantes da rede hoteleira e comercial. Atualmente os dois bairros somam 35 hotéis e mais de cinco mil quartos para turistas. Segundo Ângelo Vivacqua e Álvaro Othon, da Associação Brasileira de Indústrias e Hotéis (ABIH), a presença de população de rua é a principal reclamação dos clientes. “ É um erro político remover essas pessoas para abrigos temporários. Não adianta nada, sem dar trabalho e perspectivas. A tendência delas é voltar para a rua”, disse Vivacqua.

Othon criticou a sinalização das ruas, que para ele, é feita apenas para o carioca. “Temos problemas com turistas perdidos devido a má sinalização. Elas não indicam a rodoviária, o aeroporto e os pontos turísticos. Não precisa ser estrangeiro, quem é de outro estado se perde".

De acordo com Vivacqua, no ranking das reclamações registradas nos hotéis a violência ocupa a terceira posição entre o turista estrangeiro e a primeira entre os brasileiros. O policiamento não é o ideal, mas isso deve-se à repercussão de matérias de violência ser maior no Brasil que no exterior. ", explicou.

Para Álvaro Othon a Operação Copabacana, realizada pelo Governo do Estado em parceria com a Prefeitura, ainda é ineficiente e só dará certo se for. Ele lembra que nos últimos 15 anos a cidade não evoluiu nada.

Calendário Turístico

A falta de um calendário turístico e a dificuldade do turista de encontrar lojas que façam câmbio também foram alvo de reclamações do presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Rio de Janeiro (SHRBS), Alexandre Sampaio. Segundo ele, os shows na praia divulgam a cidade, mas não aquecem o setor hoteleiro. “Tirando o rèveillon e o carnaval não temos nenhum grande atrativo. Reclamamos isso junto à Prefeitura, mas nada é feito”.

Alexandre chamou de arbitrária a ação dos fiscais da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de aprender o material de praia dos hotéis cedidos aos turistas. “A informalidade aluga cadeiras e barracas e não é reprimida. É preciso condicionar os interesses do governo aos interesses da população. ", lamentou.

Bairro Peixoto

Estritamente residencial, o Bairro Peixoto parece um oásis dentro de Copacabana. Mantida pelo Hospital CopaD'or, a Praça Edmundo Bittencourt está em ótimo estado com brinquedos funcionando, grama aparada e bancos pintados. Para o presidente da Associação de Moradores do Bairro Peixoto, Juliano Werneck, a maior reclamação a fazer é quanto à falta de diálogo entre a Prefeitura e a comunidade. “Os moradores ficaram sabendo do programa de adoção depois do acordo concretizado. O resultado parece bom, mas o processo deve ser diferente. César Maia criou o Conselho Comunitário Urbano, que não tem objetivo nem direcionamento. É um factóide", disse Juliano que torce para conseguir a aprovação de uma APAC.

Creche

A Creche Municipal Irmãs Batista, na rua Siqueira Campos, atende 150 crianças durante o dia e outras 20 à noite. A diretora Carla Cruz conta que a unidade foi criada para funcionar até a meia-noite, mas devido à falta de recursos atende apenas até às 22h. “Depois que a administração passou da Secretaria de Assistência Social para a de Educação a situação melhorou um pouco. Deixamos o assistencialismo para focar o desenvolvimento da criança. A creche não deve ter apenas uma visão de cuidar, mas educar", disse ela, acrescentando que quase todas as crianças são filhas de mães solteiras, algumas de outros municípios como Duque de Caxias, Mauá e Piabetá.

Parada na Catedral

Saí um pouco do roteiro e corri para a Catedral do Rio de Janeiro, no Centro, para participar de uma reunião com as formandas do curso de Liderança Comunitária organizado por Marina Martins de Araújo, diretora Geral do Banco da Previdência, e uma das idealizadoras do programa. Em 2003, o trabalho, que era de cunho assistencialista, partiu para a formação de lideranças, fornecendo capacitações.

Na minha experiência de percorrer os bairros, é raro encontrar mulheres líderes comunitárias. Uma das participantes contou sua trajetória até entrar para o grupo. Desempregada, descobriu que tinha um câncer. Caiu em depressão e, para ocupar a mente passou a freqüentar as reuniões levada por uma amiga. "Aprendi que vencer obstáculos é um sacrifício válido. Estava sem perspectivas e hoje ajudo a minha comunidade com planejamentos em vários aspectos", disse.

Intercâmbio

De volta ao Leme encontrei com Lucas, um jovem alemão que fazia intercâmbio no Brasil. Ele acabara de chegar no Rio. Durante uma conversa rápida ele disse que sabia apenas que a praia de Copacabana era bonita, os produtos eram caros e que deveria tomar cuidado com a violência.

Desleixo

O presidente da Associação de Moradores, Francisco Nunes, conhecido no Leme como Chicão, está revoltado com o descaso da Prefeitura. “A Secretaria de Meio Ambiente agendou uma poda de árvores. Coloquei um jornal na rua para avisar os moradores, mobilizei a população para tirar os carros e, uma semana depois, cadê a operação? Nada aconteceu. As pessoas me cobraram a ação e não tenho o que responder. Me senti envergonhado”,

Francisco/Chicão disse que para melhor administrar o bairro dividiu o Leme em cinco setores, que são coordenados por síndicos de alguns edifícios para atuar nos problemas do bairro. No entanto, afirma que não consegue apoio do Executivo municipal para ajudar no controle urbano. "Os políticos que deveriam cuidar da população demostram desleixo. Nenhum pedido foi atendido. Os problemas de iluminação e moradores de rua continuam".

Sobre os novos quiosques novos instalados na orla Chicão foi enfático: "São para inglês ver. Os preços dos produtos comercializados são altíssimos. Quem mora na praia geralmente procura outro lugar".

Cobranças

Myrian de Pinho Barbosa, diretora executiva da Associação de Moradores de Copacabana AMACOPA afirma estar desde o ano passando tentando saber quais são as ações realizadas pela Prefeitura na região. “Eles fazem segredo de tudo. A praça dos paraíbas (Serzedelo Correia) está abandonada e tomadas por mendigos. Mendicância não é contravenção. Exigimos que a Prefeitura implante um centro de acolhida para dar encaminhamento a essas pessoas", disse.

Carnaval e História

Pesquisadora da história de Copacabana, a carnavalesca Rosa Magalhães afirma ser uma apaixonada pelo seu bairro, que define como uma mistura de mini-metrópole com cidade caipira. “Digo isso porque temos clínicas cirúrgicas sofisticadas ao lado do armazém que faz fiado e entrega em casa. Acho legal essa coexistência”, observou.

Para Rosa, o bairro deu saltos importantes em modernização, mas problemas como trânsito e população de rua ainda são transtornos. “Não me incomoda a presença de mendigos, mas sim a privação das pessoas ao direto à casa, comida e educação. As melhorias não podem ser caladas e sim cobradas”.

Rosa lembrou um dado curioso. Durante pesquisa no Arquivo da Cidade, descobriu que em 1890 era proibido falar na praia de Copacabana. "Naquele tempo, ficar na praia era considerado um tratamento de saúde. As pessoas só podiam ficar de 8h às 9h e era proibido falar. Quem passava pela orla não podia falar alto para não atrapalhar aquelas que estavam na areia fazendo tratamento", contou, rindo.

No Bip-Bip

Nascido em Santa Cruz, Alfredo Melo, dono do Bip Bip mudou-se para Copacabana ainda jovem. Em 1984 resolveu comprar o bar Bip Bip, na Rua Almirante Gonçalves. Mas, desde cedo, não quis se limitar ao trabalho comercial. Desde a inauguração, Alfredo vem realizando projetos sociais para retirar menores das ruas. Fica indignado com a falta de políticas públicas de apoio ao menor.

“Sempre incentivamos os menores à arte. Final de semana faziam apresentações e passavam o chapéu na porta do bar arrecadando dinheiro. Conseguimos tirar muitos do crime sem nenhum recurso. Como o Estado e o Município não conseguem? Não entendo isso", lamentou.

Ele lembra que, certa vez, o sociólogo Betinho fez a seguinte observação: "o Rio tem 1200 menores de rua, sendo 756 crianças de Niterói. Elas circulam de um lugar para o outro. Não são fixas. Elas vão para o Leblon, Ipanema ou Niterói e depois voltam. Ficam circulando e a maioria tem mãe. A ação deve ser conjunta". Eu concordo com ele. Perdi vários meninos para o crime. Alguns outros que conseguíamos orientar, viraram profissionais, com emprego e família”.

Sem demonstrar constrangimento, Alfredo contou que quando criança era pobre e furtou livros para poder estudar. "Os livros eram caros e estava querendo ler. Se fosse pego, não seria preso. Era ladrão de cultura. Queria que o prefeito trabalhasse mais a cultura. Vamos poupar uma hora de praia e nos dedicar a ajudar o próximo. São pequenas coisas que transformam a sociedade", disse.

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