Da EFE
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A- A+ Marta Miera.
Pequim, 7 mar (EFE).- A história de um camponês que acorrentou seu filho de dois anos a um poste de luz em Pequim abriu espaço na sociedade chinesa para o assunto do "hukou", um registro civil que priva os cidadãos das áreas rurais de educação, seguridade social, habitação e outros direitos quando vão para a cidade.
O fato de o menino Jing Dan ter passado dias preso ao poste por decisão de seu próprio pai é visto por muitos como um ato cruel e impiedoso, enquanto outros veem nisso o reflexo da situação extrema à qual se veem expostos os migrantes chineses que vivem nas cidades.
Os dias a céu aberto aguardando a chegada de seu pai transformaram Jing em um menino com dificuldades para permanecer em grupo com os demais alunos da escola Jing Liao, nos arredores de Pequim, decidiu tomar conta do menino dele após ler sua história na imprensa.
Por isso, desde segunda-feira passada, uma professora de 25 anos chamada Liu Yu cuida exclusivamente da criança das 8h às 16h, hora em que seu pai busca o menino para levá-lo de volta para casa.
Jing foi submetido a um exame médico e a uma limpeza dos pés à cabeça. Sua professora disse à Agência Efe que "é a primeira vez que o menino foi lavado em boas condições. Cortamos suas unhas porque estavam tão grandes que dobravam".
Embora a falta de cuidados com o menino seja evidente, tanto a diretora do colégio como a professora não veem no pai nenhum ato de maldade e o descrevem como "um homem muito pobre que se viu obrigado a agir desta maneira devido a suas condições de vida".
Em 1950, Mao Tsé-tung introduziu o "hukou", um sistema que tem como objetivo impedir o êxodo de camponeses para as zonas urbanas chinesas.
As últimas estatísticas apontam que 27% das 600 milhões de pessoas que moram em áreas urbanas são imigrantes da zona rural, isto é, que trabalham na cidade, mas mantêm o "hukou" do campo.
Ou seja, praticamente um em cada quatro habitantes das cidades é considerado camponês e não goza dos mesmos direitos que seus vizinhos.
Um destes camponeses é Cheng Chuan Liu, o pai do já famoso menino, que chegou a Pequim oriundo da província de Sichuan. Desde então, sua vida na grande cidade foi um autêntico calvário.
Pai de três filhos e casado com uma mulher doente, Cheng é analfabeto. Ele não sabe responder sua idade e muitos menos informar sobre a data exata na qual desapareceu a irmã de Jing, de 4 anos de idade.
Cheng diz que a perda da menina e seu trabalho - é mototaxista - são as causas que o levaram a amarrar seu filho durante vários dias na rua e em pleno inverno durante pelo menos oito horas ao dia.
"Meus filhos brincavam na rua enquanto eu trabalhava e a menina desapareceu", conta à Efe.
Há poucos dias, 13 jornais de 11 províncias chinesas publicaram um editorial que sugeria medidas transitórias até a completa abolição do "hukou". Na sexta-feira, o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, anunciou em seu discurso de abertura da Assembleia Nacional Popular (ANP, poder Legislativo) que "a China relaxará as restrições a seu sistema de residência".
Enquanto isso, Jing investiga os cantos da escola que o acolheu e sorri para estranhos como se os conhecesse. Se há algo a que este menino se acostumou durante suas horas sob o poste, é a ser o centro das atenções de olhares desconhecidas. EFE
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