quinta-feira, 7 de maio de 2009

Potências declaram guerra aos piratas do século XXI

Qui, 07 Mai, 10h55

Por EFE Reportagens



À margem das operações no Iraque e no Afeganistão, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, enfrentou sua primeira crise internacional com piratas somalis, que desafiaram a potência sequestrando um navio mercante que transportava contêineres de comida do Programa Mundial de Alimentos (PMA) das Nações Unidas.

O capitão da embarcação, Richard Phillips, ofereceu-se como refém para garantir a vida de seus 19 tripulantes, também americanos, até que finalmente um grupo de franco-atiradores das forças especiais da Marinha matou três piratas que o mantinham em cativeiro. Após o resgate, fim de um episódio que manteve os americanos em suspense por cinco dias, Obama, declarou-se "decidido a pôr fim à ameaça da pirataria".

EUA tentam apertar cerco

Pouco depois, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, apresentou um plano para apertar o cerco contra esta autêntica praga de pirataria nas águas do Golfo de Áden, que cresceu nos últimos meses mesmo com o início, em dezembro do ano passado, da missão Atlanta, com as Forças Armadas de nove países da União Europeia.

O Governo dos EUA acredita que, além de melhor coordenação e esforços internacionais, é preciso modernizar as defesas da Marinha mercante e rastrear as contas bancárias das quadrilhas, para congelar os milhões de dólares que adquirem com seus sequestros e se revertem em melhores meio para "investir em seu negócio". Hillary reiterou que a comunidade internacional trata de um crime do século XVII, mas que requer "soluções do século XXI", e assinalou que as medidas anunciadas fazem parte de uma estratégia de longo prazo do Governo. Entre elas, inclui o estudo de como ajudar o país desestruturado e sem Estado de Direito desde há quase duas décadas, que é a Somália.

No entanto, a secretária de Estado americana advertiu que as novas medidas não significam que seu país vá mudar sua posição respeito às negociações com os piratas: "Deixem-me reiterar este ponto: os Estados Unidos não fazem concessões nem pagam resgates a piratas". A França também optou pela ação para resgatar no litoral os sequestrados no iate Tanit, com uma operação militar que matou dois sequestradores, mas também um dos cinco reféns, o francês Florent Lemacon.Ele navegava em direção ao arquipélago de Zanzibar, no litoral da Tanzânia, junto com a mulher, Chloe, o filho de três anos e outro casal. Os piratas homenagearam seus comparsas mortos e prometeram se vingar com vidas de americanos e franceses; de fato, no dia seguinte atacaram com granadas um navio dos Estados Unidos, desta vez sem intenção de abordá-lo.

Área de pirataria

Os piratas procedem majoritariamente da região autônoma somali de Puntlândia, situada em um dos pontos geográficos mais estratégicos do Mar Vermelho e o Oceano Índico: o chamado "Chifre da África" e o Golfo do Áden, que fica em seu litoral.Para evitar essa região, os trajetos marítimos se alargaram em itinerários que demoram até três semanas a mais. A Puntlândia não foi reconhecida por país nem organização internacional nenhuma, após proclamar unilateralmente de sua independência, em 24 de julho de 1998.

A comunidade internacional ainda a considera uma província da Somália, país de 637.660 quilômetros quadrados, país sem comando desde o golpe que derrubou o presidente Siad Barre, em 1991. Nestes 17 anos, o país se afundou em confrontos entre "senhores da guerra", que dividiram o território em áreas controladas por suas respectivas milícias.

A Puntlândia compreende aproximadamente a antiga província de Bari e seu capital, Bosaso, no litoral Norte do país, a cerca de 700 quilômetros da capital nacional Mogadíscio. Ali, se organizam e se refugiam estes piratas do século XXI, equipados com os últimos modelos de telefones celulares e GPS, e o próprio Governo somali e da região da Puntlândia reivindicaram o uso da força contra eles. A vizinha Quênia tocou na mesma tecla, mas especificando que a solução seria para pouco tempo se não se resolverem as raízes do problema, segundo seu Governo: o caos político e a miséria.

Por sua parte, Andrew Mwnagura, diretor do Programa de Assistência Marítima (PAM), com sede no porto queniano de Mombaça, ressalta que a atividade destes modernos piratas não existiria sem as equipes de navegação, comunicações e armas. Segundo ele, esse equipamento é provido por "poderosos homens de negócios que estão por trás das abordagens; os 'verdadeiros' piratas estão em Nairóbi, Dubai e Londres".

Histórico recente

Nas primeiras duas semanas de abril, os piratas somalis atacaram cinco embarcações, entre elas um cargueiro grego e dois pesqueiros egípcios, com um total de 350 tripulantes, 100 deles filipinos. "Uma situação sem precedentes que indica que os piratas estão cada vez mais ativos e violentos", declarou Mwangura. Segundo o diretor do PAM, que oferece socorro aos marinheiros e ajuda na localização dos navios capturados, a morte de cinco piratas durante as operações de resgate das forças dos EUA e da França dos últimos dias "exacerbará os ataques dos sequestradores, que podem chegar a níveis muito violentos".

Em 2008, mais de 80 navios (mais que o dobro dos 31 de 2007) foram vítimas dos ataques de piratas no "Chifre da África". Os sequestradores chegaram a reter 17 embarcações simultaneamente enquanto negociavam resgates que, segundo um relatório da ONU, alcançaram 24 milhões de euros.

Por Manuel Carretero, com informações de Paloma Almoguera (EFE-Nairóbi).
EFE-REPORTAGENS.

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