quinta-feira, 14 de maio de 2009

Crescimento econômico e geração de trabalho decente

Publicada na edição nº 396, maio de 2009.

Em tempos de crise econômica do modelo neoliberal, é possível pensar em crescimento econômico e geração de trabalho e emprego? Presente em Belém do Pará, no Fórum Social Mundial, o jornal Mundo Jovem entrevistou a socióloga Laís Abramo, Diretora da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, buscando compreender a relação existente entre estes dois fenômenos sociais.
Laís Abramo,
Diretora da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil.
Endereço eletrônico: brasilia@oitbrasil.org.br


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Mundo Jovem: Os jovens sofrem mais o problema do emprego precário e do desemprego?

Laís Abramo: Existe uma polêmica a respeito de qual seria o momento ideal para que o jovem entre no mercado de trabalho. É uma polêmica aberta. Penso que seria quando o jovem completa sua escolarização, pois existe uma exigência cada vez maior, numa trajetória de trabalho decente para a juventude ou para as pessoas. A base, sem dúvida, desta trajetória é a educação, a escolarização. O mercado de trabalho está cada vez mais exigente.

Outra questão muito difundida é a de que os jovens não necessitam tanto assim que sejam respeitados os direitos no trabalho, porque estão mais dispostos a aceitar emprego precário, informal, sem proteção.

O resultado disso é que você tem em todos os países índices de precarização na juventude superiores à da população adulta. Há também um outro percentual preocupante que é o dos jovens que não estudam e não trabalham: estão na inatividade. Em 2007 se fez um estudo sobre a situação da juventude na América Latina, que mostra que existem 22 milhões de jovens, entre 15 e 24 anos, nessa situação. Destes, 72% são do sexo feminino. Isso considero uma discussão central de qualquer agenda de trabalho decente que se pretenda fazer.

Na agenda hemisférica de trabalho decente que foi lançada em maio de 2006 existe uma meta que é diminuir pela metade o número de jovens que não estudam e nem trabalham. No caso do Brasil, está se trabalhando nisso também.


Mundo Jovem: Também entre os jovens a questão de gênero é um fator de exclusão?

Laís Abramo: Um dado, sem dúvida, que chama muito a atenção é que 72% do total de jovens que não estudam e nem trabalham são mulheres. E aí entra o fator da maternidade na adolescência. Muitas adolescentes, ao engravidarem, acabam saindo da escola. Não existem políticas, por um lado, preventivas, que evitem a maternidade precoce. Depois, não existem políticas de conciliação trabalho-família, escola-família, que no caso das jovens adolescentes que têm filhos, facilitem para que elas continuassem estudando e/ou trabalhando.

Além disso, algumas adolescentes acabam sendo responsáveis por cuidar da casa, cuidar dos irmãos menores, enquanto a mãe está trabalhando. Aí entra a particularidade da questão do gênero, numa cultura que atribui às mulheres a responsabilidade do cuidado com a família e isso compromete de maneira muito direta as mulheres jovens.


Mundo Jovem: Como superar esse quadro?

Laís Abramo: Existe uma decisão do governo junto à OIT de tentar construir uma Agenda Nacional para a Juventude, que seria coordenada, do lado do governo, pelo Ministério do Trabalho e pela Secretaria Nacional da Juventude, ligada à Secretaria Geral da Presidência, incluindo uma participação ativa dos movimentos sociais, para propor ações em diferentes áreas.

Acredito que o momento atual de crise econômica mundial renova a necessidade de enfrentar a crise, se defender de seus efeitos negativos, mas também discutir os fundamentos do modelo que geraram essa crise e pensar na superação desse modelo econômico, na sua transformação.

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