São elevadores quebrados, rachaduras, infiltrações. Armadilhas que infernizam a vida de quem achava estar realizando um sonho.
O anúncio diz: casa própria, estalando de nova, pronta para morar. Depois de fazer a mudança, vem a descoberta. A casa não estava tão pronta assim.
Os apartamentos feitos por construtoras contratadas pela Caixa Econômica Federal para o Programa de Arrendamento Residencial têm vazamentos, mofo, rachaduras e muitos outros problemas.
O edifício imponente no Centro de São Paulo já foi um hotel antigo e estava abandonado. Com o dinheiro do Programa de Arrendamento Residencial (PAR), a Caixa Econômica Federal contratou uma construtora que reformou o prédio e liberou os apartamentos. Mas quando os moradores entraram, surgiram os problemas.
A dona de casa Edna Alves Ferreira vivia com os dois filhos aqui. Durante dois anos e meio sofreu o pesadelo dos alagamentos. E ela estava no 11º andar: “Minhas coisas estragaram, foi tudo para o lixo e ainda deixei um pouco aqui. Eu tenho um filho menor, meu filho chorava, por causa do monte de água que tinha. Era um inferno. Eu ficava noites e mais noites raspando água, puxando”.
Depois de entrar na Justiça, ela foi transferida com a família para outro apartamento, no mesmo prédio. A infiltração não acabou. Agora, atinge o estudante Edmar Aparecido de Souza, que mora no andar de baixo: “Toda água que sai de lá do apartamento acabou entrando no meu. Invadiu. Você pode ver corredor, banheiro, cozinha , quarto, tudo foi tomado pela água que veio lá de cima”.
Esses são apenas alguns problemas. Os moradores dizem que existem outros que também são graves nas áreas comuns do prédio, como no subsolo, por exemplo, mas que a gente não pode mostrar porque a administradora do prédio não permitiu nossa entrada.
Do lado de fora do prédio, um grupo de senhoras nos conta que os elevadores estão sempre com defeitos. Imagine descer e subir sete andares para ir à padaria.
“Deixo a compra aqui embaixo e vou subindo de escada e descendo e isso me deixa muito cansada, irritada”, comenta Raimunda Rosa de Jesus, de 70 anos.
Dois elevadores estão interditados pela prefeitura por falta de segurança. Maria de Lurdes Conga tem 83 anos. Mora no 15º andar. Pela escada, gasta uma hora para chegar até o térreo: “Cada andar eu descanso, fico bastante tempo e depois subo outro, depois subo outro, vou subindo devagar”.
As reclamações dos moradores se transformaram em processos no Ministério Público Federal. Na capital, há cinco casos em andamento. Mas existem também processos em outras cidades. Neles, denúncias contra as construtoras e a Caixa.
“Eu moro no térreo e a infiltração acabou com o guarda-roupa”, reclama um morador.
“A sensação no Ministério Público é que não existe a preocupação com a qualidade do imóvel a ser entregue. Essa qualidade não é uma liberalidade do poder público e da construtora. É uma obrigação. Quem paga um financiamento tem direito a receber o bem com qualidade”, destaca o procurador da República Márcio Araújo.
A Caixa Econômica Federal disse que os problemas apontados na reportagem são provocados, na maioria, pelo desgaste do uso. Segundo a Caixa, essas situações atingem 2% das quase 300 mil unidades financiadas pelo Programa de Arrendamento Residencial.
Sobre os casos apresentados na reportagem, a Caixa informou que todos já foram analisados e estão sendo resolvidos. Inclusive com a compra de um elevador para o prédio onde a senhora de 83 anos mora, no 15º andar.
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