sexta-feira, 2 de julho de 2010

A cidade daqui a 40 anos; mais favelas e bairros flutuantes

O Globo, 27/6/2010


Workshop reúne prognósticos de como será a cidade daqui a 40 anos; mais favelas e bairros flutuantes

Jacqueline Costa

Nos morros, favelas verticais, em prédios com estruturas tubulares e altíssimas, bairros flutuantes na Baía de Guanabara. Um mapa modificado da cidade, com o Centro dinâmico instalado na Zona Norte. São apenas algumas das ideias que foram apresentadas durante um workshop realizado pelos arquitetos Pedro Rivera e Pedro Évora para imaginar a cidade do Rio de Janeiro daqui a 40 anos. Durante quatro dias, na Casa França-Brasil, cerca de 20 participantes conversaram, debateram e pensaram em possibilidades.

Bom momento estimula a pensar no amanhã

Como serão o sistema de transportes, as habitações, as favelas e o lazer? E a poluição? As respostas para essas questões foram apresentadas em cartões-postais e ganharam formas de fotos, desenhos e colagens. A maioria dos trabalhos focou em uma região específica da cidade ou em um sistema, e os participantes do evento deram cara ao Rio de daqui a 40 anos. Para Rivera, o momento positivo que o Brasil e que a cidade estão vivendo é propício para pensar no futuro:

— Arquitetos pensam no futuro o tempo inteiro. Na fase atual, a gente já consegue sair dos problemas urgentes e começa a entrar nos nossos desejos.

O designer Alberto Mattos, que trabalha com efeitos especiais, pensou nas favelas:

— De minha viagem onírica ao Rio em 2050, apresento a visão do Morro da Providência. As construções ligam-se de forma arborescente em módulos habitacionais verticais, construídos com sucatas industriais.

O arquiteto francês Antoine Soulier, que está no Rio para um estágio na Secretaria municipal de Urbanismo, fez um novo mapa da cidade. Para ele, em 2050, o Rio será mais centrado na Baía de Guanabara, e a Zona Norte será o novo centro dinâmico. Em outro cartão-postal apresentado por Antoine, o cenário é catastrófico: a cidade virou uma enorme favela, com o Cristo Redentor ao fundo.

Beni Barzelai, que estuda arquitetura na PUC, voltou de um intercâmbio na França vendo o Rio de uma maneira diferente.

— Com a elevação do nível do mar, o Rio foi obrigado a pensar em uma solução para seu futuro. A falta de espaço no solo e a impossibilidade de expansão morro acima levaram a uma solução: a expansão em direção à água. Ilhas artificiais flutuantes foram surgindo e se conectando, enquanto o traçado da antiga cidade volta a ser definido pela natureza — explica Beni.

A dupla de arquitetos — que comanda o escritório Rua — realizou uma exposição na França, em 2005, sobre a realidade das favelas e a imagem de cidade. Eles também mostraram suas expectativas para o futuro. Pedro Évora explica que, na primeira aula, foram apresentadas várias visões do futuro.

— Pegamos o século XX e fizemos uma linha dos principais pensamentos de futuro. Para as pessoas perceberem como já fomos muito mais criativos do que hoje em dia e muito mais livres para pensar. Muitas daquelas ideias já foram consideradas de doidos, de arquitetos lunáticos, de malucos e agora estão aí. Isso é muito ligado à tecnologia, que possibilita que as coisas aconteçam — diz Pedro Évora.

Para os arquitetos que comandaram o workshop, em 2050, os deslocamentos não vão acontecer mais em carros.

— Acho que as ruas serão liberadas para pedestres e bicicletas e serão muito mais parecidas com as ruas do início do século XX. O sistema de transportes vai acontecer, seja por bicicletas ou por pequenos carros elétricos — prevê Pedro Évora.

Para Pedro Rivera, as favelas estarão melhores porque o país estará mais rico:

— A cidade tá louca para conquistar as favelas. Ninguém mais quer aquilo como um espaço de exclusão. Acho que as praias não estarão tão poluídas como hoje.

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