terça-feira, 13 de julho de 2010

AS ÁGUAS TURVAS DA NESTLÉ

AS ÁGUAS TURVAS DA NESTLÉ
Carla Klein

Há alguns anos a Nestlé vem utilizando os poços de água mineral de São Lourenço
para fabricar água marca PureLife. Diversas organizações da cidade vêm
combatendo a prática, por muitas razões.


As águas minerais, de propriedades medicinais, e baixo custo, eram um eficiente
e barato tratamento médico para diversas doenças, que entrou em desuso, a partir
dos anos 50, pela maciça campanha dos laboratórios farmacêuticos para vender
suas fórmulas químicas através dos médicos. Mas o poder dessas águas permanece.
Médicos da região, por exemplo, curam a anemia das crianças de baixa renda
apenas com água ferruginosa.


Para fabricar a PureLife, a Nestlé, sem estudos sérios de riscos à saúde,
desmineraliza a água e acrescenta sais minerais de sua patente.


A desmineralização de água é proibida pela Constituição. Cientistas europeus
afirmam que nesse processo a Nestlé desestabiliza a água e acrescenta sais
minerais para fechar a reação.


Em outras palavras, a PureLife é uma água química.
A Nestlé está faturando em cima de um bem comum, a água, além de o estar
esgotando por não obedecer às normas de restrição de impacto ambiental, expondo
a saúde da população a riscos desconhecidos. O ritmo de bombeamento da Nestlé
está acima do permitido.

Troca de dutos na presença de fiscais é rotina. O terreno do Parque das Águas de
São Lourenço está afundando devido ao comprometimento dos lençóis subterrâneos.
A extração em níveis além do aceito está comprometendo os poços minerais, cujas
águas têm um lento processo de formação. Dois poços já secaram. Toda a região do
sul de Minas está sendo afetada, inclusive estâncias minerais de outras
localidades. Durante anos a Nestlé vinha operando, sem licença estadual. E
finalmente obteve essa licença no início de 2004.


Um dos brasileiros atuantes no movimento de defesa das águas de São Lourenço,
Franklin Frederick, após anos de tentativas frustradas junto ao governo e
imprensa para combater o problema, conseguiu apoio, na Suíça, para interpelar a
empresa criminosa. A Igreja Reformista, a Igreja Católica, Grupos Socialistas e
a ong verde ATTAC uniram esforços contra a Nestlé, que já havia tentado a mesma
prática na Suíça.
Em janeiro deste ano, graças ao apoio desses grupos, Franklin conseguiu
interpelar pessoalmente, e em público, o presidente mundial do Grupo Nestlé.
Este, irritado, respondeu que mandaria fechar imediatamente a fábrica da Nestlé
em São Lourenço.


No dia seguinte, o governo de Minas (PSDB), baixou portaria que regulamentava a
atividade da Nestlé. Ao invés de multas, uma autorização, mesmo ferindo a
legislação federal. Sem aproveitar o apoio internacional para o caso, apoiou uma
corporação privada de histórico duvidoso.Se a grande imprensa brasileira,
misteriosa e sistematicamente vem ignorando o caso, o mesmo não ocorre na
Europa, onde o assunto foi publicado em jornais de vários países, além de duas
matérias de meia hora na televisão.


Em uma dessas matérias, o vereador Cássio Mendes, do PT de São Lourenço,
envolvido na batalha contra a criminosa Nestlé, reclama que sofreu pressões do
Governo Federal (PT), para calar a boca.


Teria sido avisado de que o pessoal da Nestlé apóia o Programa Fome Zero e não
está gostando do barulho em São Lourenço.Diga-se também que a relação espúria da
Nestlé com o Fome Zero é outro caso sinistro.


A empresa, como estratégia de marketing, incentiva os consumidores a comprar
seus produtos, alegando que reverte lucros para o Fome Zero.E qual é a real
participação da Nestlé no programa? A contratação de agentes e, parece, também
fornecendo o treinamento. Sim, a famosa Nestlé, que tem sido há décadas alvo
internacional de denúncias de propaganda mentirosa, enganando mães pobres e
educadores para a substituição de leite materno por produtos Nestlé, em um dos
maiores crimes contra a humanidade.


A vendedora de leites e papinhas "substitutos" estaria envolvida com o
treinamento dos agentes brasileiros do Fome Zero, recolhendo informações e
gerando lucros e publicidade nas duas pontas do programa: compradores desejosos
de colaborar e famintos carentes de comida e informação.Mais preocupante: o
Governo Federal anuncia que irá alterar a legislação, permitindo a
desmineralização "parcial" das águas.O que é isso? Como será regulamentado?


Se a Nestlé vinha bombeando água além do permitido e a fiscalização nada fez,
como irão fiscalizar a tal desmineralização "parcial"? Além do que, "parcial" ou
"integral", a desmineralização é combatida por cientistas e pesquisadores de
todo o mundo.E por que alterar a legislação em um item que apenas interessa à
Nestlé? O que nós cidadãos ganhamos com isso?

Sabemos que outras empresas, como a Coca-Cola, estão no mesmo caminho da Nestlé,
adquirindo terrenos em importantes áreas de fontes de água.
É para essas empresas que o governo governa?

Colabore. Transmita estas informações para outras pessoas. Mais informações
sobre o caso Nestlé em www.cidadaniapelasaguas.net

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