Revista do CREA-RJ
Número 87, Abril/Maio de 2011
ECONOMIA E MERCADO
UM CHECK-UP DO MERCADO DE TRABALHO
Confea vai realizar censo para traçar perfil dos profissionais da área tecnológica e ajudar a propor soluções para gargalo de mão de obra
Pesquisa divulgada no último dia 11 de março pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que, até 2020, a demanda por engenheiros no Brasil deverá crescer entre 5,1% e 13%, dependendo do desenvolvimento da economia — o que significa dizer que serão necessários entre 600 mil e 1,15 milhão de engenheiros a mais nos próximos dez anos. Diante desse quadro de demanda crescente de mercado, o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), em parceria com o Ministério do Desenvolvi mento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), realizará um censo de profissionais da área tecnológica em todo o país com o objetivo de identificar as maiores carências de mão de obra especializada, bem como ajudar a propor soluções que evitem a necessidade de importação de trabalhadores estrangeiros, identificando maneiras de aumentar a qualificação da mão de obra nacional.
O Confea tem, hoje, 938.523 pro fissionais cadastrados em seu banco de dados. Porém, muitos não atuam na área em que se graduaram. O censo também tem como meta conhecer adequadamente os profissionais vinculados ao Sistema Confea/Crea, buscando traçar um perfil desses graduados e identificar razões para a evasão de sua área de formação. A ideia é, a partir daí, sugerir ações que possam contribuir para o retorno desses profissionais ao mercado de trabalho, fortalecendo, assim, a engenharia nacional.
CENÁRIO DE REAQUECIMENTO
“O objetivo é pensar no futuro da engenharia no Brasil, e os dados do censo serão muito importantes para o planejamento estratégico dos próximos dez anos. Queremos garantir presença maior da área e aumentar a competitividade internacional de nossa engenharia. Segundo dados da Unesco, 2/3 dos graduados migram para outras áreas. Precisamos identificar aonde estão esses profissionais”, afirma Marcos Túlio de Meio, presidente do Confea.
Nas décadas de 1980 e 1990, a economia brasileira não estava aquecida, o que provocou a ida de engenheiros formados para outros setores de atuação. Essa informação foi levantada pela pesquisa do Ipea. “Nos anos 80, havia estagnação econômica, a economia cresceu pouco, enquanto na época do chamado milagre econômico, nos anos 1970, os profissionais de engenharia eram altamente demandados. Esse cenário está se restabelecendo”, acredita Aguinaldo Nogueira Maciente, um dos responsáveis pelo estudo do Instituto, divulgado no “Boletim Radar 12 — Edição especial sobre mão de obra e crescimento”.
MESTRADOS PROFISSIONALIZANTES
Na atual conjuntura de desenvolvimento nacional, com surgimento de novos investimentos em infra- estrutura, além de grandes eventos como os Jogos Olímpicos, a Copa do Mundo e a exploração do pré-sal, uma saída para essa escassez de mão de obra qualificada foi a importação de profissionais estrangeiros, solução de curto prazo que o presidente do Confea quer combater. Uma das soluções que Marcos Túlio considera viável é propor ao governo que crie uma oferta de mestrados profissionalizantes - prática bastante comum na Europa -, para atualizar aqueles profissionais que se afastaram de sua área de graduação e trazê-los de volta ao setor. “São cursos de um ano que poderiam capacitar profissionais defasados”, sugere.
Miguel Luiz Ribeiro Ferreira, vice-presidente da Escola de Engenharia da Universidade Federal Fluminense (UFF’), acredita que seria mais interessante desenvolver um programa de atualização, com cursos de extensão e especialização, do que oferecer mestrados, que são mais focados para o ramo da pesquisa. “O mestrado, mesmo o profissional, desenvolve pessoas com habilidade para fazer pesquisas. Para reinserir os profissionais no mercado de trabalho, é melhor fazer o que chamamos de educação continuada”, afirma. Ele cita como exemplo o Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás (Prominp), do Governo Federal, que, desde 2003, oferece cursos gratuitos para qualificação de mão de obra para esse setor, que é um dos que mais cresceram no país.
UNIVERSO DO CENSO
“Muita gente que estava fora do mercado conseguiu voltar depois de fazer o Prominp. É um modelo de treinamento que pode ser adotado, porque qualificou trabalhadores em todo o país. E o processo de reinserção pode ser feito em parceria com as universidades, como também é o Prominp”, afirma. Na opinião do vice-presidente da Escota de Engenha ria, os dados que serão revelados pelo censo do Confea vão ser de grande utilidade para os mais diferentes se tores da engenharia. “Sabemos que muitos graduados deixaram a área na década de 1990, mas não temos isso mensurado em números, Será muito interessante ter essa informação para ajudar no planejamento do futuro”, afirma.
Miguel Ferreira afirma que o censo poderá ajudar a resolver outra questão estratégica: diante da perspectiva de crescimento no setor tecnológico, uma pesquisa poderá contribuir com soluções para o problema de evasão.
“O custo para reinserir alguém no mercado de trabalho é menor do que o da formação. Essas pessoas já estão graduadas, só precisam ser atualizadas. Cursos tecnológicos são caros, exigem laboratório e material de consumo”, alerta.
A ideia inicial do Confea era incluir no censo todas as pessoas que concluíram os cursos das áreas tecnológicas. Porém, o Ministério de Edu cação só possui dados informatizados dos graduados a partir de 2009, o que inviabilizaria o processo. Por isso, o sistema resolveu trabalhar apenas com o universo dos cadastrados.
“Mas esperamos também atrair s graduados que não são cadastrados. Eles poderão entrar em contato e se registrar para participar da pesquisa, o que certamente ajudará nos resulta dos finais”, reforça Marcos Túlio.
REFORÇAR ENSINO MÉDIO
O presidente do Confea identifica ainda a necessidade de o governo aumentar o investimento para que diminua a evasão nos cursos de engenharia e afins. “O percentual de pessoas que não concluem o curso é muito alto. Uma oferta maior de vagas de estágio e bolsas de iniciação científica certamente ajudaria a evitar que isso ocorresse. A falta de base em matérias corno cálculo, matemática e física também é um problema sério, que poderia ser resolvido com o re forço no monitoramento de alunos”, acredita Marcos Túlio.
O estudo elaborado pelo pesquisador do Ipea Aguinaldo Maciente e seus colegas afirma: “Para garantir uma oferta continuamente amplia da de engenheiros, que parece ser requerida se o crescimento econômico se concretizar, será necessário melhorar significativamente as competências básicas dos alunos de ensino médio, para que mais candidatos tenham condições de ingressar nos cursos mais especializados, como os de engenharia, e concluí-los com sucesso. O desempenho brasileiro no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês), permite vislumbrar uma progressiva melhora das capacidades cognitivas dos alunos, mas ainda em um nível insuficiente para as necessidades do país”.
Miguel Ferreira, da UFF, porém, é bastante otimista com relação ao panorama universitário atual. “No ano passado, tivemos a mesma relação candidato-vaga do que o curso de medicina. As turmas estão lotadas e somos procurados por empresas de recursos humanos, que oferecem empregos aos nossos alunos. A grande maioria já sai empregada”, informa ele, acrescentando que há maior dificuldade no que diz respeito ao direcionamento acadêmico das carreiras: “É difícil manter uma pessoa no mestrado, ganhando uma bolsa que nem de longe compete com os salários do mercado”, analisa.
“A quantidade de engenheiros mais jovens está aumentando. No total dos engenheiros empregados, os recém-formados vão ter uma probabilidade maior de trabalhar na área do que aqueles do passado, porque o cenário atual está mais favorável”, acredita o pesquisador do Ipea, Aguinaldo Maciente.
SUPERVISÃO DO IBGE
O trabalho de recenseamento, cuja metodologia está na fase final, está previsto para começar em junho, através de uma pesquisa que será disponibilizada no site do Confea. Os cadastrados em todo o Brasil serão convidados a responder o questionário online, sob supervisão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Caso haja necessidade de complementação de resultados, o Confea poderá requisitar o trabalho de pesquisadores ou recenseadores para atuar nas áreas que não tiveram a cobertura online. Como o assunto interessa a diversos setores, muitos órgãos e instituições já se mostraram interessados em acompanhar os resultados, previstos para serem divulgados em dezembro. O censo conta ainda com o apoio do Ministério de Educação (MEC), do Ipea, da Confederação Nacional da Indústria e de todos os Creas. (Maíra Amorim)
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