segunda-feira, 19 de abril de 2010

Para os que ainda duvidam da gentrificação...

Por Daniel Neves Montezano

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100416/not_imp539044,0.php#noticia

O Estado de S.Paulo

Depois da desastrada reforma do sistema de albergues, que vem reduzindo as
vagas disponíveis para moradores de rua e causou espanto por sua
insensibilidade no trato de uma questão particularmente delicada, tendo em
vista seus aspectos sociais e humanos, a Prefeitura da capital acaba de
tomar uma segunda medida igualmente infeliz em relação a essa população
desamparada. Portaria publicada no dia 1.º de abril regulamenta os
procedimentos a serem observados pela Guarda Civil Metropolitana (GCM) no
trato com os moradores de rua, cabendo-lhe "contribuir para evitar a
presença de pessoas em situação de risco nas vias e áreas públicas da cidade
e locais impróprios para a permanência saudável das pessoas". Isto deverá
ser feito por meio da "abordagem e encaminhamento das pessoas, observando as
orientações da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento
Social".

Isto quer dizer, como explica Bruno Paes Manso em reportagem publicada no
Estado de quarta-feira, que os guardas poderão incomodar os moradores de
rua, para levá-los a deixar essa condição. Uma das formas de fazer isso é o
chamado "toque de despertar". Em vários locais do centro da cidade - como a
Praça da Sé e em frente à Bolsa de Valores -, os guardas estão acordando
diariamente os que dormem deitados nas calçadas. Eles podem ficar ali, desde
que sentados.

Por trás dessa maldade à primeira vista pequena - mas que na verdade é uma
revoltante forma de sadismo, por serem as suas vítimas quem são - está uma
mudança profunda na maneira de a Prefeitura tratar o problema dos moradores
de rua. Na região central, serviços públicos e instituições religiosas
proporcionam alimentação, banho e até oficinas de capacitação a essa
população, o que constituiria um incentivo para que ela se acomodasse. A
ação da GCM seria uma maneira de forçá-la a sair da condição atual.

Isto é confirmado por um inspetor da GCM ouvido pela reportagem, que
preferiu por razões compreensíveis manter o anonimato. O próprio secretário
de Segurança Urbana, Edson Ortega, admite isso indiretamente, ao concordar
que o "incômodo" causado àquela população tende a estimulá-la a deixar a
rua. Segundo ele, os moradores de rua estão procurando cada vez mais os
serviços sociais oferecidos pela Prefeitura. Ora, se esses serviços são tão
bons, seus beneficiários não precisam ser empurrados para eles por meio dos
tais "incômodos".

Diz o secretário que os responsáveis por essa nova política não estão
inventando a roda, pois "os países mais desenvolvidos seguiram essa linha".
Ele não está bem informado. Em Paris, como mostra a reportagem, várias ONGs
doaram, em 2006, 500 barracas vermelhas para os sem-teto pernoitarem perto
dos pontos turísticos da cidade e, assim, chamar a atenção do poder público
para o seu problema. O que fez o governo francês? Em vez de mandar a polícia
"incomodar" os sem-teto, para incentivá-los a mudar de vida, decidiu
investir 7 milhões na construção de moradias para eles.

Algo semelhante deveria fazer a Prefeitura paulistana. Até porque existe
toda uma estrutura montada para socorrer essa população. Entre 2002 e 2009,
os recursos disponíveis para isso passaram de R$ 201,6 milhões para R$ 615,8
milhões. Um contingente de 452 agentes de proteção social, com o apoio de 40
Kombis, está apto a dar assistência aos moradores de rua e encaminhá-los aos
albergues.

A nova política do "incômodo", do "toque de despertar", veio se juntar à
reforma do sistema de albergues, que, com o fechamento de dois deles, já
reduziu suas vagas de 8 mil para 7.300, justamente quando estudo promovido
pela própria Prefeitura indica que o número de sem-teto está aumentando.
Essas duas medidas parecem dar razão, infelizmente, aos que vêm acusando a
Prefeitura de querer "limpar" o centro. Ou ela dá logo alguma explicação
para atitudes marcadas por uma insensibilidade que beira o inacreditável ou
não haverá como contestar tal acusação.

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*Posto também os comentários vomitados no site: (É de assustar!!!!)
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10 ANTONIO ESTEVAO
16 de abril de 2010 | 12h 08Denunciar este
comentário

chega de ter esta atitude hipócrita "cristã" de sempre carregar no colo
estes parasitas bebados e drogados, eles que tomem jeito na vida, a vida é
dura para todos, concordo interiramente com a prefeitura chega de falsas
bondades, vamos encarar a realidade, os moradores de rua são párias da
sociedade que não querem ser ajudados
9 Suzy Q
16 de abril de 2010 | 9h 55Denunciar este
comentário

As ONGs levam alimento diretamente aos sem-teto, eles não têm nem o trabalho
de procurar. A prefeitura faz com que alguma coisa eles façam da vida, pelo
menos que procurem subsistência.

Não é justo que a prefeitura dê moradias para os sem-teto que, em sua maior
parte, vem de outros estados do país e o pagador de imposto não tenha
nenhuma ajuda no financiamento de sua casa.

O que tem de ser feito é um levantamento do estado de origem destas pessoas.
A partir daí se tem duas opções: ou ela volta para sua terra ou seu estado
de origem banca moradia decente para ela aqui.

Por que temos sempre que arcar com os custos do Brasil inteiro? Sem-teto,
sem-terra e, principalmente, sem-vergonha.
8 flavio guarniero
16 de abril de 2010 | 9h 15Denunciar este
comentário

Dessa vez o editoralista errou feio em sua crítica. Devemos adotar
tolerância zero nas ruas da cidade,e criminalização as famílias que
abandonam seus entes a própria sorte,adultos e crianças.Jogar a
responsabilidade nas costas da Prefeitura e dos contribuintes para sustento
dessa gente toda é fácil...É uma pena o jornal baixar a esse nível de
pensadores.
7 Marcos Martins Nonato
16 de abril de 2010 | 9h 08Denunciar este
comentário

Fico muito triste em ver que a solução para tentar resolver os problemas da
degradação das pessoas é com políticas desse tipo. Quando se tem
oportunidades e uma família bem estruturada é muito fácil tomar partido de
um governo que toma atitudes como essa. Agora, gostaria de ver os senhores
nascendo e vivendo em famílias desestruturas e destruídas, sem esperanças e
perspectivas... Será que teriam um pingo desse pretensa força de sair da
situação em que se encontram... senhores falar é fácil. O difícil é resolver
o problema levando em consideração a dignidade da pessoa humana, pois não
estamos falando de animais irracionais! Estamos falando de gente.
6 Naposi Napo
16 de abril de 2010 | 8h 58Denunciar este
comentário

Os moradores de rua estão acomodados à sua triste situação. Quem já
trabalhou com essas pessoas, em geral afirma que eles simplesmente não
querem, ou não sabem como, mudar.

Incentivar uma mudança de comportamento requer reforço positivo e negativo.

O positivo está sendo feito através das instituições que oferecem apoio.

O negativo está sendo feito através das ações que mostram não ser a coisa
pública uma "casa da maria joana".

Os editoriais do Estadão, na sua maioria absoluta brilhantes, desta vez
pecou pela defesa da dignidade humana com argumentos incompletos e
superficiais.
5 Cris Rocha Azevedo
16 de abril de 2010 | 8h 46Denunciar este
comentário

Insensibilidade é considerar que serem humanos possam e devam viver como
animais, nas calçadas da cidade. Há lugar para eles. A prefeitura tenta
convencê-los por bem a ir para os albergues, mas todos sabem que não tem
poder para obriga-los. Há inclusive crianças, ali, vivendo com seus pais sem
banho, sem escola, sem comida, sem cama. Eles devem, sim, ser forçados a
reencontrar a dignidade de teto, banho e comida, ao menos. Se não vão por
bem, valem os métodos dissuasivos como o proposto. Muitos deles, se sabe,
perderam o discernimento, pelo abuso de drogas e álcool, e outros têm
problemas psíquicos A realidade mostra que dificilmente saem deste estado
sem que sejam induzidos a fazê-lo. Ademais, as ruas são espaços públicos.
Público quer dizer "do uso de todos" e não se pode obrigar a população a
conviver e aceitar a sujeira e a degradação humana em espaços que não foram
criados para abrigar pessoas. Nos acostumamos com o discurso vazio e
demagógico dos "padres de passeata" - que não abrem suas igrejas para dar
abrigo àquelas pessoas, note-se - e políticos "ongueiros", para quem esta
pobre gente representa dinheiro em caixa, deixando de perceber que mantê-las
ali, sim, é uma crueld
4 Ricardo Nunes
16 de abril de 2010 | 8h 42Denunciar este
comentário

Sou a favor deste método adotado pela prefeitura. Diante desta Constituição
de Centro Esquerda a qual rege as leis contidas nos Estados e dos Municipios
país afora, medidas enérgicas como esta, gera um certo mal estar entre todos
da sociedade, porem, de alguma forma, pode ser interessante a medida que
demonstra, de certo modo, que não é interessante morar nas ruas.

.

É sabido que há muitos mendigos que trabalham como sucateiros e outros como
pedintes. Conseguem renda o suficiente para sair desta infeliz situação. O
que não pode é o governo ficar injetando muito dinheiro publico, verba que
poderia ir para a educação e saúde para os contribuintes, e jogar dinheiro
pelo ralo, pois, segundo a prefeitura, diversos albergues geram mais gastos
do que realmente resultados, afinal, amparados por uma lei ridicula, eles
não são obrigados a se tratarem. Preferem "morar" nas ruas. A GCM tem de ser
enérgica nestas horas, senãoi os milhoes de reais investidos para a
restauração do centro histórico, igualmente, não surtirá efeito.
3 Cris Rocha Azevedo
16 de abril de 2010 | 8h 33Denunciar este
comentário

Discordo do editorial. As ruas são espaços públicos. Isto quer dizer que são
de todos e não "casa da mãe joana".

Há albergues em quantidade suficiente e os dois que foram fechados o foram
porque estavam ociosos. Insensibilidade é considerar que serem humanos
possam e devam viver como animais, nas calçadas da cidade. Há lugar para
eles. Eles devem, sim, ser forçados a reencontrar a dignidade de teto, banho
e comida, ao menos. Se não vão por bem, valem os métodos dissuasivos como o
proposto. Atrás de uma pretensa "humanidade" no ato de deixar estas pessoas
naquele estado, existe sim uma insensibilidade atroz.
2 Joao Metelo
16 de abril de 2010 | 8h 32Denunciar este
comentário

Duvido que o colunista já tenha tido o desprazer de ver um grupo de
moradores de rua se instalar numa esquina próxima à sua casa, gerando
insegurança aos moradores da região. Com certeza ele repensaria se a
prefeitura deve ou não remover essas pessoas do local.

Concordo que faltam políticais sociais e assitencais para os moradores de
rua que tentem de fato retirá-los dessa situação, mas também acredito que a
maioria desses moradores de rua prefrer ficar na rua mendigando e se
drogando do que voltar a seus municípios de origem (muitos vêm de cidades do
interior) ou para suas casas (a maioria tem famíla, obviamente). Passar a
mão na cabeça do morador de rua e tratá-lo como um "tadinho" com certeza não
é a melhor solução.
1 F Moreira
16 de abril de 2010 | 7h 18Denunciar este
comentário

A reportagem peca por não investigar o motivo da Prefeitura ter reduzido o
número de vagas nos albergues, supostamente de 8 mil para 7.300. Pelo que
foi divulgado na época, se não estou enganado, a Prefeitura alegou que fez
um levantamento, com profissionais especializados, e constatou que uma
parcela significativa de usuários dos abrigos tinham emprego, alguns com
renda acima de R$ 1.000.

Tratar esse assunto com pieguice ou para ataques politicos não beneficia a
população de São Paulo. Por exemplo, no caso de menores de rua, é de
conhecimento geral que a quase totalidade desses menores possui um lar para
morar.

Quantos usuários dos albergues usam o beneficio por morarem longe do
trabalho? Quantos operários da construção civil usam os albergues porque a
construtora não está provendo alojamento? Deveria a sociedade pagar pela
comodidade ou omissão?

O meu ponto de vista é que a discussão desse assunto não pode ser emocional.
Devem ser investigados os motivos da Prefeitura antes de serem emitidas
criticas sem conhecimento de causa.

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