Vizinhos de SP têm pior ensino público
12/02/2007
Estudantes de municípios próximos à capital paulista têm desempenhos piores do que os de cidades pobres do Nordeste
Levantamento feito pela Folha na Prova Brasil, exame do MEC, revela que a melhor educação está no interior do Sul e no Sudeste do país
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os resultados do Saeb (exame que avalia a qualidade do ensino), divulgados na semana passada pelo MEC, escondem, dentro dos Estados, oscilações significativas entre municípios.
São Paulo, por exemplo variou da 4ª à 9ª posição no ranking de Estados nas seis provas do exame. Dados tabulados pela Folha a partir da Prova Brasil, outro exame do MEC, mostram, no entanto, que cidades da Grande São Paulo -como Ribeirão Pires, Jandira, Santana de Parnaíba e Francisco Morato- apresentam médias inferiores às de municípios do interior do Nordeste.
O Saeb é feito de dois em dois anos desde 1995 em uma amostra de alunos escolhida para representar o total do Brasil ou cada Estado. O diferencial da Prova Brasil, realizada em 2005, é que ela permite a comparação por município e escola. A escala das notas dos exames vai de 0 a 500 pontos.
Para fazer o ranking dos municípios pela Prova Brasil, a Folha comparou o resultado de todas as 267 cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes. Foram consideradas as médias do município, incluindo escolas estaduais e municipais.
Além de detectar o péssimo desempenho de cidades da região metropolitana, o levantamento mostra também que o melhor ensino público está no interior dos Estados do Sul e do Sudeste.
A cidade que aparece com as melhores notas na 4ª série é Patos de Minas, enquanto Nova Friburgo (RJ) teve o melhor desempenho em português e Conselheiro Lafaiete (MG) em matemática para a 8ª série.
Para especialistas que analisaram os dados a pedido da Folha, a crise das cidades ao redor das metrópoles não é restrita a SP. A explicação para o bom desempenho do interior e o péssimo das periferias está no que eles chamam de capital social.
"Ao estudar o resultado das escolas no vestibular da UFMG, vimos que as melhores, levando em conta o nível sociocultural dos alunos, estavam no interior. Visitamos e percebemos que há nessas cidades ainda algum tipo de pressão comunitária. A professora não pode faltar e ir para o clube, pois lá estará a mãe dos alunos. Na cidade grande isso não existe mais, principalmente para os mais pobres", diz Francisco Soares, pesquisador da UFMG.
Ruben Klein, da Fundação Cesgranrio, concorda. Para ele, o problema está tanto nas cidades no entorno das capitais quanto nos bairros mais pobres das grandes cidades. "Há um problema grave nas periferias que precisa ser combatido."
Creso Franco, pesquisador da PUC-Rio, chegou a conclusões semelhantes ao analisar o resultado dos municípios do Rio no exame do MEC: "O professor que dá aula nas escolas de periferia só pensa em sair de lá. Elas apresentam os mesmos problemas das grandes metrópoles sem ter a vantagem que existe nas cidades do interior. Juntam o pior dos dois lados."
"As escolas do interior são consideradas "patrimônio da localidade". Já nas grandes cidades a degradação do tecido social acaba se refletindo na escola", afirma o presidente do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação), Mozart Neves Ramos.
Fonte: Folha de São Paulo
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