quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Analfabetismo funcional -

um entrave à competitividade do país na economia globalizada

Análise especial baseada no Indicador de Alfabetismo Funcional descreve o
perfil dos trabalhadores brasileiros e especula sobre o impacto do analfabetismo funcional na competitividade das empresas

O Instituto Paulo Montenegro - organização sem fins lucrativos mantida pelas empresas do grupo IBOPE e voltada para a educação – desenvolve, em



parceria com a ONG Ação Educativa, o Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF)

O estudo é realizado anualmente, desde 2001, com o objetivo de mensurar a capacidade de leitura, escrita e cálculo da população brasileira adulta. Uma análise especial, apresentada em primeira mão nesta edição do Giro IBOPE, traça um perfil da força de trabalho brasileira sob o prisma do alfabetismo funcional.

Os dados do INAF, coletados entre 2001 e 2007 junto à população de 15 a 64 anos, mostram, por exemplo, que 1 em cada 10 trabalhadores brasileiros tem pouca ou nenhuma escolaridade e pode ser considerado um analfabeto absoluto, enquanto outros 25% não ultrapassam o nível rudimentar, independentemente do grau de escolaridade declarado. Ambos os grupos (o equivalente, portanto, a mais de 1/3 dos trabalhadores de nosso país) são considerados analfabetos funcionais, de acordo com o INAF.

No nível básico de alfabetismo está a maior parte da força de trabalho do Brasil (37%), ainda que metade desse contingente tenha escolaridade correspondente ao Ensino Médio (11%) e ao Superior (3%). Já no nível pleno estão 28% das pessoas que trabalham.

Entraves Econômicos
Na avaliação de Ana Lúcia Lima, diretora executiva do Instituto Paulo Montenegro, o analfabetismo funcional tem impacto negativo em todos os aspectos da vida das pessoas, nos âmbitos social, familiar, político e profissional. “As limitações nas habilidades de leitura, escrita e cálculo afetam o país como um todo, limitando a possibilidade de inserção do Brasil de forma efetivamente competitiva na economia globalizada”, diz Ana Lúcia.

O estudo revela outro dado preocupante: em geral, as habilidades e competências relacionadas ao alfabetismo funcional de quem busca uma primeira oportunidade de trabalho estão muito aquém daquelas observadas na maioria da população já empregada, constituindo, assim, mais um entrave para o crescimento econômico do país. “Mesmo se forem asseguradas as condições estruturais e financeiras que possibilitem ao Brasil deslanchar economicamente, é muito provável que não tenhamos pessoas com preparo adequado para atender às demandas do mercado de trabalho”, conclui Ana Lúcia.

A situação setorial
Os números referentes aos diversos setores da economia mostram que a agricultura – um segmento fundamental para o crescimento do país nos últimos anos – absorve a maioria dos analfabetos funcionais, ao empregar 31% dos trabalhadores analfabetos absolutos ou que atingem apenas o nível rudimentar de alfabetismo.

Segue o setor de serviços, que emprega 27% dos trabalhadores nessas mesmas condições. Curiosamente, é também o setor de serviços que reúne a maior parte dos trabalhadores brasileiros mais bem qualificados (a ele se dedicam 27% dos brasileiros com nível pleno de alfabetismo).

Chama ainda a atenção o fato de 26% dos trabalhadores da indústria serem classificados como analfabetos funcionais. Trata-se de um dos segmentos mais estruturados e formais da economia, com altos investimentos em maquinários modernos, que exigem profissionais qualificados para operá-los. “A baixa qualificação da mão-de-obra disponível afeta negativamente a produtividade e a competitividade desse setor”, acrescenta Ana Lúcia.

Outro dado interessante dessa análise especial baseada no INAF indicou que 7% dos trabalhadores brasileiros, apesar de terem estudado até no máximo a 8ª série, têm pleno domínio das habilidades de leitura, escrita e matemática. “Isso demonstra o quanto a inserção no mundo corporativo estimula o crescimento dos indivíduos, permitindo que desenvolvam e exerçam, de maneira plena, habilidades não adquiridas durante sua vida escolar”, afirma a diretora.

Segundo Ana Lúcia, muitas empresas já investem em ações de incentivo à formação escolar ou complementar de seus colaboradores, familiares e da comunidade de seu entorno. “São iniciativas que refletem uma postura de responsabilidade social empresarial e, ao mesmo tempo, asseguram boas perspectivas de retorno para as empresas e, conseqüentemente, para o país”, finaliza.

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