Gazeta Mercantil, 19/5/2008
FALTAM PROFISSIONAIS DE SAÚDE E SEGURANÇA
Salários de técnicos, engenheiros e médicos do trabalho estão inflacionados no País
Marcelo Monteiro
A expansão da atividade econômica no País está gerando novas oportunidades para executivos de vários setores. Em algumas áreas, como a de saúde e segurança, o crescimento é tão expressivo que já é possível se perceber a falta de profissionais especializados. "É um mercado que está bastante aquecido, tanto na saúde ocupacional quanto em segurança ocupacional", afirma Newton Dias Lara , diretor técnico da Bioqualynet, empresa especializada do setor.
As principais demandas são para técnicos de segurança (com segundo grau e curso profissionalizante), engenheiros do trabalho e médicos de segurança (ambos pós-graduados em Engenharia de Segurança). "Nós, que atuamos como prestadores de serviços e precisamos de profissionais para atuar nestas áreas, estamos com dificuldades", diz Lara, que também é diretor de relações institucionais da Associação Brasileira de Empresas de Saúde e Segurança no Trabalho (Abresst).
A explicação para o "boom" do setor é simples: conforme determina a Portaria 3.214 (NR-4) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), as empresas de todos os setores devem contar com estruturas de saúde e segurança ocupacional proporcionais ao número total de funcionários (ver quadros). Uma indústria metalúrgica que emprega de 3.501 a 5 mil funcionários, por exemplo, precisa ter 10 técnicos de segurança do trabalho, três engenheiros de segurança, um auxiliar de enfermagem, um enfermeiro e três médicos do trabalho.
Conforme Lara, a escassez de especialistas para dar suporte à expansão da economia nacional já resultou na inflação dos salários de médicos do trabalho nos últimos meses. "O salário-base para 20 horas semanais pulou de um patamar de R$ 1,8 mil no Rio de Janeiro para R$ 2.500 a R$ 3.500." Na capital paulista, segundo ele, a situação é ainda mais crítica. "Em São Paulo, começamos a falar em salários de R$ 3.500, com muita dificuldade, podendo chegar a R$ 5 mil (para 20 horas semanais), conforme a experiência. No caso de um médico sênior, para 20 horas, o salário pode chegar a R$ 8 mil."
Na opinião do executivo, a falta de profissionais de saúde e segurança ocupacional pode se agravar ainda mais, caso o Plano de Aceleração do Crescimento alcance as metas projetadas para os próximos anos. "Se o PAC surtir os efeitos desejados, vamos ter uma dificuldade muito grande", projeta Lara.
O engenheiro de segurança e presidente da APS Associados, Alberto Pereira, diz que, a exemplo dos ganhos dos médicos do trabalho, os salários dos engenheiros de segurança também estão inflacionados. "Na prática, eles ganham hoje de R$ 8 mil a R$ 16 mil."
Pereira acredita que a falta de profissionais possa comprometer a qualidade e a segurança das obras que estão em andamento em todo o Brasil. Conforme as exigências da NR-4, algumas obras atuais requerem a contratação de mais de 200 técnicos de segurança cada uma.
Em 2007, conforme estimativa da Federação Nacional dos Técnicos de Segurança do Trabalho, atuavam no Brasil cerca de 250 mil técnicos de segurança - 50 mil em São Paulo e entre 18 e 20 mil no Rio de Janeiro. O número, diz Pereira, estaria bastante defasado em relação às atuais necessidades do mercado corporativo nacional. "O risco de um apagão de talentos no setor de segurança do trabalho é iminente", adverte.
Qualidade questionada
Mais do que conseguir gente suficiente para a operação, o setor também está preocupado com a qualidade dos profissionais contratados, especialmente na área de segurança ocupacional. O presidente da APS Associados acredita que o advento deste novo filão de mercado está fazendo com que muitas pessoas sem experiência e com baixo nível de capacitação assumam responsabilidades maiores do que o recomendado.
Segundo Pereira, o salário atrativo para um técnico de segurança - o piso deverá ultrapassar R$ 2 mil em breve - deu origem a cursos de formação de baixo nível, com corpo docente pequeno (às vezes apenas um professor) ou pouco qualificados. "Hoje, qualquer um se matricula em uma escola, onde às vezes há só um profissional, e sai no dia seguinte ganhando R$ 2 mil a R$ 2,5 mil."
Essa falta de preparo, prossegue o engenheiro, significa um perigo a mais para os trabalhadores. "Temos riscos para os profissionais (espaços confinados, riscos elétricos, içamento de carga, operação de guindastes). Por quê? Falta de preparo do nosso pessoal", comenta o executivo, que decidiu melhorar o grau de capacitação de sua equipe, com programas próprios de treinamento.
Há dois anos, a APS Associados vem aprimorando seus engenheiros, médicos e especialistas em segurança no trabalho. Os treinamentos são conduzidos por acadêmicos, profissionais de empresas alinhadas ao Programa Nacional de Qualidade (PNQ) e auditores fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Mortes no trabalho
Conforme dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), anualmente ocorrem no Brasil 1,3 milhão de acidentes de trabalho, muitos dos quais resultam em mortes. Entre as causas estão más condições nos ambientes e processos de trabalho e o descumprimento de normas elementares de proteção aos trabalhadores.
Com 2.503 óbitos anuais, o País é o quarto no ranking de mortes em acidentes de trabalho, atrás apenas de China (14.924), Estados Unidos (5.764) e Rússia (3.090). De acordo com dados dos Ministérios do Trabalho e Emprego e Previdência Social de 2005, as áreas com maior número de óbitos são transportes, armazenagem e comunicações (sete mortes entre 3.855 trabalhadores), indústria da construção (seis óbitos em cada 6.908 trabalhadores), e comércio e veículos (cinco mortes entre 24.782 trabalhadores).
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