Brasil Econômico, 12/9/2011
PAÍSES COMPETEM ATÉ PELA MÃO DE OBRA QUALIFICADA
Mercado de trabalho sem fronteiras levará empresas a adotarem mais atrativos para reter talentos, e a valorizar profissionais de mais idade
João Paulo Freitas
Uma grande reviravolta na oferta de força de trabalho está se configurando para as próximas duas décadas e os países em desenvolvimento lideram esse movimento.
Nos próximos 20 anos, 18,4 milhões de brasileiros vão ingressar no mercado, colocando o país na 11ª posição na lista das nações que terão maior crescimento nesse quesito até 2030. Globalmente, a projeção é de um avanço de 931 milhões de indivíduos na população em idade ativa - crescimento que ocorrerá integralmente nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, da Índia e da China. Ao mesmo tempo, os países desenvolvidos enfrentarão redução de 1 milhão de indivíduos nesse grupo.
Os dados constam do relatório "Criando empregos em uma economia global", elaborado pela Hays, consultoria especializada no recrutamento de profissionais para alta e média gerência, em parceria com a Oxford Economics, ligada à Universidade de Oxford, na Inglaterra.
De acordo com Luiz Valente, diretor da Hays no Brasil, a primeira implicação desse quadro é que ele afetará fortemente o eixo do poder econômico mundial, fortalecendo os países em desenvolvimento. Segundo o levantamento, o Brasil será o 11º colocado entre as nações que terão forte expansão da construção civil - com previsão de crescer em média de 6% nos próximos 20 anos -, atrás de Índia (18%), China (17%) e Rússia (14%), mas superior a países como Canadá (5,1%) e Reino Unido (2,7%).
O estudo aponta ainda avanço significativo da globalização nos próximos anos, o que elevará a competição por mercados consumidores e consequentemente aumentará as exigências sobre as qualidades dos produtos e pela redução dos custos de fabricação. "A implicação disso é que a produção, assim como o emprego, migrará cada vez mais das economias na quais o seu custo é elevado para mercados com menor custo de produção", diz Valente. Com isso, os países em desenvolvimento se tornarão cada vez mais industrializados, fortalecendo as economias dessas nações.
Outro aspecto é que a transferência da produção para esses países provocará também transferência de tecnologia e elevará a necessidade de mão de obra qualificada. Ou seja, um problema já enfrentado por países como o Brasil se tornará ainda mais agudo. "A oferta de qualificação está nos países desenvolvidos.
Isso significa maior movimentação da mão de obra dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento", afirma o diretor da Hays, acrescentando que os avanços tecnológicos acentuarão a polarização entre profissionais especializados e qualificados e a mão de obra de baixa qualificação.
Idosos na ativa Para que empresas e governos possam se preparar para esse processo de melhoria da qualificação profissional, uma das sugestões apresentadas pela consultoria diz respeito à importância de se manter as pessoas de mais idade ativas, isto é, trabalhando.
"Isso é algo que já observamos no mercado brasileiro. Esse tipo de demanda tem crescido de modo significativo", afirma Valente. "Na própria construção civil e em todos os projetos ligados à infraestrutura, o profissional com idade avançada é muito demandado".
Outra recomendação é que os investimentos em educação sejam intensificados para que o crescimento da população de pessoas em idade ativa resulte em expansão da mão de obra especializada. Esse item se relaciona diretamente com mais uma sugestão: governos e empresas precisam-se esforçar para criar empregos.
O relatório da Hays aconselha ainda que os países mantenham suas fronteiras abertas para a movimentação de mão de obra qualificada. "O Brasil não é considerado o país mais difícil em termos de legislação ligada a questões migratórias, mas certamente não é considerado o mais liberal", diz Valente. "Por isso é necessário revisar a legislação, especialmente em função da necessidade de alguns setores pontuais." Nessa mesma linha, a consultoria indica que se estabeleça um código internacional para facilitar a migração de funcionários dentro das empresas multinacionais.
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Brasil Econômico, 12/9/2011
AGORA, OS EMPREGADOS ESCOLHEM O PATRÃO
Profissional qualificado se dá ao luxo de decidir pela proposta que oferece mais benefícios, além do salário
Uma tendência detectada pelas consultorias especializadas em recursos humanos é a de setores com alta demanda contratando profissionais abaixo das qualificações e oferecendo treinamento
Priscila Machado
A disputa por profissionais qualificados no mercado está criando novos paradigmas no mundo corporativo.
Se antes o profissional procurava emprego e a empresa escolhia quem iria contratar, agora o trabalhador é quem decide em qual companhia deseja atuar.
Nesse cenário, além de salários maiores, as empresas têm que oferecer algo a mais ao futuro funcionário. "O que oferecemos não é só um salário, mas temos uma proposta de valorização do profissional que precisa ser convencido de que a nossa empresa é melhor que a do outro", diz a superintendente de Recursos Humanos da Comgás, Célia Dutra.
No caso da Comgás, essa valorização se traduz em investimento na qualificação da mão de- obra. Ao contratar um técnico, por exemplo, a empresa investe de R$ 100 mil a R$ 120 mil no seu primeiro ano de formação.
Segundo Célia, no caso dos técnicos boa parte dessa formação precisa ser complementada dentro da empresa, visto que a atuação específica na área exige conhecimentos e práticas peculiares.
A companhia planeja contratar 50 técnicos nos próximos quatro anos.
Entre os profissionais com nível superior, o problema observado pela executiva não é de formação, mas sim o fato de que ele não está preparado para o mundo corporativo. "É necessário aproximar a academia da empresa para que o profissional tome contato com a realidade que ele vai enfrentar", avalia Célia. Ela acrescenta que a maturidade tem feito o mercado voltar a contratar pessoas de idade mais avançada.
Setores com alta demanda contratando profissionais abaixo das qualificações e os treinando já são uma tendência detectada pelas consultorias especializadas em recursos humanos. Márcia Hasche, da consultoria Valor Pessoal, diz que o que mais se vê é um esforço enorme das empresas para reter talentos. "As perspectivas de troca em emprego não envolvem mais apenas aumento salarial, mas também as possibilidades de desenvolvimento profissional no médio e longo prazos", diz.
Em setores de alta demanda por profissionais com capacitação específica essa estratégia tem funcionado. "Temos conseguido manter os talentos que contratamos utilizando duas estratégias principais: treinamento e reconhecimento, com incentivos de longo prazo e possibilidade constante de uma carreira internacional", afirma Raquel Couri, diretora de recursos humanos da BG Brasil.
Eventos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, que serão realizados no Brasil, também devem acelerar o processo de contratação de profissionais qualificados, já que se trata de obras em andamento e que não podem esperar.
(colaborou Cláudia Bredarioli)
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