terça-feira, 21 de junho de 2011

Sentar rende multa a "meninos-placa"

São Paulo, segunda-feira, 20 de junho de 2011
Sentar rende multa a "meninos-placa"
Jovens que carregam setas para indicar empreendimentos em SP ganham menos se não ficam seis horas de pé

Menores recrutados para o trabalho dizem que são punidos por fiscais; eles ganham entre R$ 25 e R$ 30 o dia

GIBA BERGAMIM JR.
DE SÃO PAULO

Sob o sol forte, a adolescente A.,17, passa seis horas em pé sem poder sentar nem um minuto, na rua Maurício Francisco Klabin, região da Vila Mariana (zona sul).
Tamanho esforço não é só para indicar o acesso aos eventuais compradores de apartamentos de quatro dormitórios, mas porque uma simples "sentadinha" acaba num desconto que varia de R$ 5 a R$ 10 nos R$ 30 obtidos pelo dia de trabalho.
Assim é a vida dos "jovens-placa" de São Paulo, que são multados caso não fiquem em pé o dia todo. Eles ficam espalhados por todas as regiões da cidade nos finais de semana. Muitos deles são menores de idade.
À Folha, oito jovens que atuavam segurando placas no último sábado na Vila Mariana, em Perdizes (zona oeste) e na Mooca (zona leste), confirmaram a punição quando "fiscais" os flagram sentados na calçada.
A jovem A. disse que já recebeu uma multa de R$ 10, que achou injusta. "Estava chovendo e eu fui procurar abrigo. Aí me sentei um pouco. Em vez de receber R$ 30, ganhei só R$ 20", disse.
No dia, ela fazia propaganda de um empreendimento imobiliário em Santo André (ABC paulista).

DURA JORNADA
Os jovens que seguram setas são da periferia, muitos deles da zona leste (Cidade Tiradentes, Itaim Paulista, São Miguel Paulista).
São pegos por uma Kombi às 8h num ponto pré-determinado e chegam aos locais de trabalho por volta das 10h. Só saem das ruas às 17h, quando a mesma Kombi os leva de volta.
Eles tem direito a uma hora de almoço, mas não ganham vale-refeição. Todos carregam seus lanches - muitas vezes misto frio e refrigerante preparados em casa - em pequenas mochilas.
A proposta de emprego, na verdade um bico negociado verbalmente, está em postes da zona leste.
Agências de promoções e eventos recrutam os jovens para trabalhar nos finais de semana e feriados.
Os adolescentes ouvidos pela Folha, a maioria deles cursando o ensino médio, recebem um uniforme composto por camiseta (com o nome do empreendimento), calça, boné, uma blusa cacharrel para dias frios e, claro, a placa que até parece leve.
"Mas, depois de um tempo carregando, vai ficando pesada", disse V., 20, que carregava uma seta em Perdizes, no sábado passado.
O dinheiro pelos dois dias trabalhados só chega aos bolsos dos jovens na quinta-feira. "E se você falta um dos dias, não ganha nada. Tem que vir sábado e domingo para receber R$ 60", explica.
Os "homens-placa" ou "homens-seta" são uma maneira de driblar a lei Cidade Limpa, que restringe anúncios publicitários nas ruas.
Como não são permitidas placas fixas, a saída das empresas de propaganda é usar pessoas para carregarem as setas indicativas. O nome do empreendimento aparece em uniformes ou guarda-sóis, tática usada no Duet Klabin, na Chácara Klabin.
A Folha não localizou os responsáveis pelas empresas que recrutam os jovens.

http://www.dgabc.com.br/News/5886844/venda-de-imoveis-usa-trabalho-infantil.aspx

SETECIDADES

quinta-feira, 19 de maio de 2011 7:08
Venda de imóveis usa trabalho infantil
Camila Galvez
23 comentário(s)

O trabalho infantil é proibido no Brasil, mas ele existe e na região é visível em esquinas e vias bem movimentadas, sobretudo nos fins de semana. Mas órgãos que deveriam fiscalizar e impedir a exploração de crianças, como Ministério Público e Conselhos Tutelares, dizem não ter conhecimento da atividade dos meninos-placa. São jovens entre 12 e 15 anos que contratados para divulgar imóveis à venda na região.

Aparentemente, o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC descobriu que o problema existe, e pretende mapear as áreas onde há a exploração do trabalho infantil. Depois, deve acionar os Conselhos Tutelares e Ministério Público, responsáveis pela fiscalização.

Os meninos-placa trabalham aos fins de semana. Ganham entre R$ 25 e R$ 30 por jornada de oito horas. Enquanto estão nas ruas, sofrem com excesso de sol, chuva e cansaço, além do risco de atropelamentos e exploração sexual.

A equipe do Diário flagrou, domingo, crianças nesta situação em Santo André e São Bernardo. Meninos e meninas que usam o pagamento para ajudar os pais, e também para comprar roupas e "ir para a balada". Todos dizem estudar.

F.S. é o mais novo deles. Trabalha na Avenida Pereira Barreto, onde vigia placa de empreendimento próximo ao Shopping ABC. Disse ter 12 anos, mas quando o amigo lhe dá um cutucão, corrige: "Tenho 14". Ganha R$ 25 por dia.

Enquanto ele cuidava da placa, a menina G.S., 15, distribuía panfletos no semáforo, prática proibida pela legislação municipal. Ela ganha R$ 30 por jornada. "De vez em quando mexem comigo, mas nunca aconteceu nada grave."

Em São Bernardo, A.V.S., 14, foi flagrado sentado em um banco de plástico na Rua Jurubatuba, perto do Paço Municipal. Ele vigiava uma placa. "Ganho R$ 75 por três dias", falou. Ao ser questionado sobre quem o contratou, disse não saber. "Foram os mesmos que chamaram meus amigos".

Mais à frente, na mesma rua, M.G., 14, senta no chão para descansar. "Fico entediada de estar aqui, mas pelo menos tenho dinheiro para comprar minhas coisas."

CONTRATAÇÕES

As construtoras, imobiliárias e uma das empresas flagradas utilizando mão-de-obra infantil não se responsabilizaram pelo problema.

A ABC Promoções, marca estampada nos coletes das crianças em Santo André, informou desconhecer a contratação de menores de 16 anos. Os trabalhadores seriam selecionados por agentes.

A Molnar e a Agre PDG, construtoras responsáveis pelos empreendimentos em Santo André e São Bernardo, informaram que o serviço é terceirizado e que as empresas são orientadas a não contratar menores de 16 anos.

Consórcio vai mapear áreas nas cidades

O GT (Grupo de Trabalho) Criança Prioridade 1, do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, pretende mapear o trabalho de menores de 16 anos no setor imobiliário. A ideia é levantar os principais pontos da região em que essa prática ocorre.

Após o mapeamento, o Consórcio pedirá fiscalização às Delegacias Regionais do Trabalho, Ministério Público e Conselhos Tutelares.

Segundo o coordenador do GT, Ariel de Castro Alves, não é possível saber quantos jovens estão nesta condição, pois não há contratos de trabalho fixos nem qualquer tipo de informação disponibilizada pelas empresas. "Por lei, o trabalho de menores de 16 anos só é permitido como aprendiz, o que não se justifica nesses casos", evidenciou.

As prefeituras informaram que discutirão o assunto nas próximas semanas. São Bernardo é a única que já preparou mapeamento da situação.

Para o ex-conselheiro tutelar de São Bernardo Sérgio Linhares Hora, é preciso mais do que fiscalização. Na opinião de Hora, o poder público precisa saber quais são as necessidades dos jovens, não apenas as financeiras, mas também de atividades de lazer e culturais. "Muitos vão para as ruas para ter dinheiro para sair, ir ao shopping, porque falta lazer", explicou.

PUNIÇÃO

No Brasil, o trabalho infantil em geral não é enquadrado como crime. Entretanto, quando ocorre maus-tratos da criança, previsto pelo artigo 136 do Código Penal, o contratante pode ser punido com pena de dois meses a 1 ano de reclusão.

Em caso de morte causada pela situação de trabalho, tais como atropelamentos, o responsável pode pegar até 12 anos de prisão.

Apesar de não responder criminalmente, as empresas que contratam menores de 16 anos estão sujeitas à fiscalização e multa pela prática. O valor varia conforme o número de crianças contratadas e a situação em que elas se encontram no momento do flagrante.

Grande ABC tem 755 crianças inscritas em programa federal

A região tem pelo menos 755 crianças no Peti (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), do governo federal. Elas vivem em Santo André, São Bernardo e Diadema. São Caetano informou não ter casos de trabalho infantil e os demais municípios (Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra) não responderam.

O programa prevê ações educativas e de lazer. Como grande parte dos menores de 16 anos trabalha para complementar o ganho familiar, há transferência de renda.

Em Santo André, onde 123 jovens estão inscritos, os valores variam de R$ 32 a R$ 242. As atividades são realizadas por faixa etária.

Em São Bernardo, onde o programa atende 232 crianças, o valor fica entre R$ 70 e R$ 169,99. O trabalho é coordenado pela Fundação Criança, que promove atividades socioeducativas, acompanha o rendimento escolar e também o relacionamento familar.

Em Diadema, 400 crianças estão inscritas no Peti, mas a Prefeitura não informou o valor transferido às famílias. Na cidade, o programa prevê trabalho de geração de renda para os pais dos jovens.

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Gustavo Cherubine
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Chefe Si'ahl, líder do Povo Dkhw'Duw'Absh, em 1855.

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