quinta-feira, 2 de julho de 2009

Parabens a quem diz proteger sem conhecer

CRIANÇAS EXPLORADAS


Famílias na linha da pobreza que não tem outra alternativa senão colocar criança para trabalhar.
A equipe acompanhou de perto as faces urbana e rural do trabalho infantil. A troca da infância pela sobrevivência.

O reflexo da degradação humana: a exploração sexual de menores. Meninas que abandonam seus sonhos e suas bonecas para seguir na dura realidade da prostituição infantil.

Um absurdo. Abrigos repletos de crianças que sofreram violência, abandono e exploração.

Solidariedade. Preocupado com o futuro de meninos e meninas carentes, um empresário dedica seu tempo e seus investimentos numa instituição que presta assistência a estas crianças.

Estes e outros casos no SBT Repórter "Crianças Exploradas" no próximo dia 1 de julho, às 23h55min. Não perca!
Revista mostra moda ética



“Recentemente tem havido um grande burburinho a respeito da moda ética, mas muitas pessoas ainda estão confusas”, diz Steve Goggin, diretor de campanhas da BBC.



Segundo ele, certos estereótipos ainda rondam esse tipo de moda, principalmente de que se trata de peças feias e sem estilo, caras ou difíceis de achar.



“Por isso, estamos usando peças interessantes que podem ser encontradas online ou em redes de lojas conhecidas. Também temos a preocupação de mostrar que nem todas as roupas éticas são caras”, diz Goggin.



O conceito do que é uma roupa ética também gera confusão entre os consumidores, já que uma peça pode ter sido feita com algodão orgânico, por exemplo, mas em fábricas que não garantem boas condições de trabalho aos seus funcionários.



A questão é mesmo complicada e a revista decidiu mostrar roupas e acessórios que respeitem pelo menos um dos seguintes critérios: que sejam produzidos e transportados de forma ética, respeitando o meio-ambiente e os direitos dos trabalhadores ou que sejam feitos usando materiais orgânicos e sustentáveis

Máfias lucram com sexo


Prostitutas em Moscou, próximas aos hotéis de luxo
Desde a queda do comunismo, as meninas que vivem em orfanatos por toda a ex-União Soviética têm medo de que seu aniversário de 17 anos chegue. Nessa idade elas são devolvidas às ruas só com a roupa do corpo, sem dinheiro ou estudos completos.

Essas órfãs não recebem licença de residência e não têm acesso a qualquer serviço de saúde. Não é à toa que, antes dos 18 anos, seis em cada dez delas cairão nas mãos dos traficantes de sexo.

Sabendo do futuro desanimador que as aguardava, as meninas de um orfanato rural na república russa de Karelia vibraram quando dois recrutadores de trabalho apareceram por lá no ano passado. Eles ofereceram a oportunidade de ir para a China e aprender a cozinhar.

Ganhariam a viagem e o curso e, em troca, teriam que trabalhar dois anos como garçonetes.
Sasha, 15 anos, se inscreveu. "No ônibus, havia umas 30 meninas vindas de uns dez orfanatos", diz Sasha. "Mas ao invés de nos mandar para a China, nos levaram para a Alemanha, nos trancaram em um apartamento e confiscaram nossos passaportes."
As meninas ficaram cinco dias sem comida nem água.

"Então, um homem com guarda-costas apareceu e começou a nos comprar. Ele me levou e outras quatro para uma casinha da qual nós nunca podíamos sair. Nós só ganhávamos comida se fizéssemos sexo com dez homens por dia. Eles disseram que a gente precisava ficar lá até pagar os custos da viagem e da hospedagem. Mas era impossível, porque eles nunca nos davam dinheiro. Em um ano, fui vendida dez vezes", diz Sasha.

Nas raras ocasiões em que se consegue escapar do traficante, as embaixadas russas não ajudam, porque o tráfico é ilegal. Juliette Engel, uma médica americana, trabalha para mudar essa situação. Ela fundou o instituto MiraMed, que ajuda órfãs russas com um programa financiado pelo governo americano para educar mulheres jovens sobre o tráfico.

Congressistas americanos que ouviram testemunhos sobre o tráfico internacional em junho do ano passado souberam como uma menina escapou de traficantes russos e conseguiu chegar em casa. Mas a máfia a perseguiu e a decapitou.

A cada ano, mais de 2 milhões de mulheres são traficadas no mundo -mais de 50 mil são vendidas nos EUA. Hoje, o tráfico do sexo rende bilhões de dólares aos cofres das máfias do mundo inteiro, rivalizando com os lucros provenientes de drogas e de armas, segundo a organização americana Global Survival Network (algo como "rede de sobrevivência global"). E diferentemente de tóxicos e munições, uma mulher pode ser negociada várias vezes, até ficar doente demais para trabalhar ou morrer de Aids.

Revista "MUNDO e MISSÃO"
Crianças
Trabalho infantil. O que fazer?
Conforme estimativas da Organização Internacional do Trabalho - BIT (Bureau Internacional du Travail), o número de crianças, em todo o mundo, com idade entre 5 e 14 anos que trabalham em período integral ou meio período e são remuneradas, chega a 250 milhões. Dessas, 73 milhões teriam entre 10 e 14 anos. O continente com o maior número de crianças trabalhadoras é a Ásia, com 60% do número total; 30% estariam na África e 10%, na América Latina. Contudo, se considerarmos proporcionalmente a população dos países, os países da África ocupam os primeiros lugares. O documento da BIT revela também que as crianças são usadas como mão-de-obra barata em indústrias de artigos de exportação. Portanto, não comprar os produtos produzidos por indústrias que exploram o trabalho infantil, como alguns países já estão fazendo, é uma forma de combater o problema. Mas será que isso resolve ou, pelo contrário, agravaria a questão? Em Bangladesh, quando os Estados Unidos proibiram a importação de tecidos produzidos por indústrias que exploravam o trabalho infantil, a vida de 50 mil crianças, que foram demitidas, piorou sensivelmente por falta de alimento e remédios que, bem ou mal, compravam com os pequenos salários que recebiam. Essa experiência levou os Estados Unido, a BIT e o governo de Bangladesh a rever suas posições radicais, permitindo que as indústrias eliminassem progressivamente o trabalho infantil, mas ajudando as famílias a manter as crianças na escola, a fim de não piorar sua situação econômica já tão precária.
Escola vazias indústrias cheias
Países que mais exploram o trabalho infantil
% de crianças que trabalham entre 10-14 anos
Butão
55,1
Mali
54,5
Burkina Faso
51,1
Burundi
49,0
Timor Leste
45,4
Uganda
45,3
Nepal
45,2
Níger
45,2
Quênia
41,3
Senegal
31,4
Bangladesh
30,4
Ilhas Salomão
28,9
Nigéria
25,8
Haiti
25,3
Turquia
24,0
Trabalho infantil:
os números da exploração
Total: 73,3 milhões
Ásia: 44,6 milhões - África: 23,6 milhões
América Latina: 5,1 milhões


Em FocoJunho de 2004
Trabalho infantil - Crianças exigem direito à infância Por: ANDREIA SANCHES, Jornalista do «Público»
A cidade italiana de Florença foi palco de um congresso especial: crianças de várias partes do mundo falaram pelos 246 milhões de menores que são vítimas de trabalho infantil. Mais de 8,4 milhões serão sujeitos a formas extremas de exploração, entre as quais a prostituição ou a escravatura. O tráfico atinge mais de um milhão. No dia 12 de Junho assinala-se o Dia Mundial contra o Trabalho Infantil.

Aos 12 anos, Anna, nascida no Iémen, foi obrigada pelas circunstâncias a deixar a escola para trás. E também a infância. A avó, que tomara conta dela depois da morte do pai, adoeceu e deixou de ter meios para a sustentar. Uma tia arranjou-lhe emprego noutro país. Na casa para onde foi servir, como empregada doméstica, na cidade filipina de Malaybalay, Anna era molestada sexualmente. Mais tarde, quando percebeu que planeavam destinar-lhe outras tarefas – transportar drogas nas ruas de Manila – fugiu.
A Bien, nascida nos Camarões, foram as marcas dos maus tratos que o seu corpo fraco exibia que denunciaram o drama em que a sua curta vida se tornara. Órfã de pai e mãe desde os 11 anos, era obrigada por uma tia a acordar às três da manhã para fazer a lida da casa, passar a ferro, lavar a loiça, fazer comida. O resto da jornada era dedicada a vender bolos junto a uma escola. Quando se enganava nos trocos, batiam-lhe. Até que um dia um vizinho contactou a coordenação nacional da Marcha Mundial contra o Trabalho Infantil, e relatou o que se passava.
Hoje, Anna tem 16 anos e Bien é um ano mais velha. As suas curtas biografias aparecem na lista dos delegados do I Congresso Mundial de Crianças contra o Trabalho Infantil – que, entre os dias 10 e 13 de Maio passado reuniu, na cidade italiana de Florença, crianças provenientes de várias partes do mundo. Através desses pequenos textos ficamos a saber que ambas as meninas estarão a ser devidamente acompanha das. O pesadelo teve um fim.
As histórias de Anna e Bien não são muito diferentes das de outras crianças participantes neste congresso, bem como de outras ainda que era suposto terem participado, mas a quem o Governo italiano não deu autorização para entrar no país. Promovido pelo movimento Marcha Mundial contra o Trabalho Infantil, o evento teve, ainda assim, a originalidade de dar voz a quem já foi, ou ainda é, vítima de exploração. E de pôr políticos, representantes da banca mundial e de organizações internacionais a ouvir as suas exigências.
Segundo os cálculos da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o trabalho infantil afecta 246 milhões de crianças; 110 milhões têm menos de 12 anos; 171 milhões exercem actividades perigosas ou em condições que põem em risco a sua saúde.

De empregadas a prostitutes

O chamado trabalho infantil domiciliário é apenas uma das facetas do problema. Ao contrário de outras formas de exploração de menores, esta continua a ser, em muitas partes do mundo, culturalmente aceite. E, no entanto, não são raros os casos em que esconde abusos terríveis, como mostram as histórias de Anna e Bien, cometidos entre quatro paredes, longe do olhar de todos, muitas vezes de carácter sexual.
Alguns números dão pistas claras de que assim é. Na Tanzânia, por exemplo, 25 por cento das prostitutas começaram por ser empregadas domésticas quando eram crianças. No Nepal, na cidade de Catmandu, mais de metade das meninas que trabalham a servir em casas particulares não recebem qualquer pagamento e 79 por cento são obrigadas a trabalhar à noite.
A dimensão do fenómeno é tal que a OIT escolheu para tema de destaque no Dia Mundial contra o Trabalho Infantil, que se assinala a 12 de Junho, o trabalho doméstico.
Mas a exploração de menores assume as mais diversas formas. Ainda que se confessem um pouco desiludidas – muitas crianças presentes em Florença disseram que estão a perder a fé nos seus governos por causa das promessas não cumpridas –, são vários os reptos que a declaração final do Congresso Mundial contra o Trabalho Infantil lança aos adultos.
O combate ao tráfico de menores é um deles, quando é sabido que este negócio ajuda a alimentar aquilo que a OIT classifica como as mais degradantes formas de trabalho infantil – onde se incluem os trabalhos forçados, a prostituição, a pornografia e a utilização de crianças em conflitos armados e actividades ilícitas. Estas formas extremas de exploração atingirão cerca de 8,4 milhões de miúdos, ainda de acordo com a OIT.

Um tráfico africano

Apesar de não existirem números rigorosos, diferentes organizações calculam que cerca de 1,2 milhões de menores sejam envolvidos, por ano, nos circuitos de tráfico de seres humanos.
«Para pôr fim às piores formas de trabalho infantil, os países têm de combater o tráfico de meninos e meninas», tem vindo a defender a Unicef. «Não podemos continuar a considerar que as piores formas de trabalho infantil são uma vergonha. Temos de encará-las como parte de um comércio desumano e criminoso que é preciso combater», sustentou, recentemente, Carol Bellamy, directora executiva desta organização.
Recentemente, o Centro de Investigação Innocenti, da Unicef, divulgou um estudo sobre tráfico de mulheres e crianças em África («Trafficking in human beings, especially women and children, in Africa»).
O documento mostra que este negócio afecta quase todos os países africanos sobre os quais existem dados disponíveis. Sublinhando que não existem estimativas fiáveis sobre o verdadeiro número de vítimas, o estudo revela, no entanto, que o número de países que reportam tráfico de crianças é o dobro dos que dão conta de tráfico de mulheres.
Em cada 10 países africanos há oito onde o tráfico no interior das fronteiras nacionais é praticado. Em 34 por cento dos países analisados (num total de 53), o tráfico tem como destino a Europa e em 26 por cento o Médio Oriente e os países árabes.
Entre as causas mais profundas do tráfico estão os conflitos e dificuldades económicas, por vezes associados a certas práticas tradicionais, sustenta a Unicef. A pobreza torna mais facilmente manipuláveis as vítimas. As famílias muito pobres sentem-se tentadas a vender ou a alugar os filhos; uma menina ou jovem podem ser encaradas como uma fonte de rendimento se forem «dadas» para casamento. Nas sociedades tradicionais da África subsariana, por exemplo, é da praxe que a família da noiva seja agraciada com gado.
A falta de um registo de nascimento, com a consequente impossibilidade de provar uma identidade nacional, aumenta ainda mais a vulnerabilidade destes já fáceis alvos (mulheres e crianças), referem os autores do estudo.
A necessidade de satisfazer as necessidades de trabalhadores agrícolas, disponíveis a toda a hora e baratos, é outro factor importante no tráfico de menores, quando se estima que a maioria das crianças que em todo o mundo trabalham estejam precisamente a laborar nos campos.
As produções de cacau da África ocidental são frequentemente apontadas como um dos palcos da escravatura de menores. Recentemente, no ABC, uma reportagem sobre «meninos escravos» punha em destaque uma frase arrepiante de Drissa, um rapaz da Costa do Marfim que desde a adolescência é obrigado a trabalhar de sol a sol numa plantação de cacau para que «os mercados do ocidente adocem a boca»: «Digam-lhes que, quando tomam chocolate, estão a comer a minha própria carne.»

Órgãos para feitiços

Nem todas as crianças traficadas servem, no entanto, para alimentar o mercado do trabalho infantil, como nota a Unicef.
Uma parte dos milhares de menores vendidos em todo o mundo, incluindo na Europa, poderá ter como destino a adopção e o tráfico de órgãos. Na África do Sul e em regiões da África ocidental e oriental, há relatos de assassínios tendo em vista a utilização de órgãos ou partes de corpos em rituais de magia e feitiçaria, mas a Unicef reconhece que este é um assunto que deve ser objecto de mais investigação.
No início deste ano, em entrevista ao Público, Nancy Scheper-Hughes, directora da Organs Watch, sediada nos EUA, afirmava que tem «dezenas de casos documentados de mulheres e crianças que tinham rins saudáveis que lhes foram retirados durante operações de rotina». Trata-se sobretudo de situações de abuso, em hospitais, de pessoas muito pobres. Mas uma vez mais não se tem a noção da dimensão do problema.
Mais documentada, em diferentes relatórios internacionais, está outra faceta do tráfico: a exploração sexual e prostituição de menores. Um relatório divulgado no passado dia 4 de Maio pelo próprio Governo da Gâmbia, em colaboração com a Unicef, revelava que são cada vez mais os turistas europeus que viajam para aquele país para fazer turismo sexual. E as crianças são as principais vítimas desta procura.
A OIT estima, por seu lado, que em todo o mundo 1,8 milhões de menores estejam envolvidos na prostituição e na indústria de pornografia – um fenómeno que está longe de ficar limitado às regiões mais pobres, é antes transversal a diferentes tipos de sociedades.
No final de 2000, cerca de 350 mil meninos e meninas seriam alvo deste tipo de exploração nos Estados Unidos; no Camboja, um terço das prostitutas têm menos de 18 anos e, na Lituânia, a percentagem andará na casa dos 20 a 50 por cento – aqui crianças com 11 anos podem ser encontradas nos bordéis e outras, ainda mais novas, são usadas na produção de filmes pornográficos. A Unicef calcula ainda que 30 por cento das vítimas das redes de tráfico de seres humanos que operam na Moldova sejam adolescentes destinadas à exploração sexual.
Alguns passos têm sido dados para alterar o estado das coisas. Na Gâmbia, por exemplo, onde as relações sexuais precoces são culturalmente aceites, tem havido alterações à lei, de forma a travar a turismo sexual. E vários ministros têm condenado, sem rodeios, estas práticas.

Humano e vantajoso

Os governos têm de punir os adultos que abusam das crianças para satisfazerem os seus interesses. Têm de criminalizar o trabalho infantil e apoiar as crianças que o denunciam. Têm de reabilitá-las... quem o exige são, desde logo, as próprias crianças, com palavras simples, ao longo da declaração final do congresso de Florença.
«Enquanto os governos continuam a despender uma enorme quantidade de dinheiro em armas e na guerra, continuam a existir crianças que não sabem ler nem escrever, que não têm casas para viver nem comida para se alimentar», sustenta a declaração. «Os governos têm de fazer das necessidades das crianças uma prioridade», continua.
Na opinião de muitos, como Nora, uma rapariga dos Estados Unidos da América que, segundo a agência Misna (Missionary Service News Agency), falou às centenas de delegados, «o único antídoto contra o trabalho infantil é a instrução». E também essa ideia está expressa nas reivindicações do congresso: «Os governos devem fornecer educação obrigatória gratuita de qualidade. As escolas devem dispor de professores qualificados.»
Os pais não são esquecidos: «Os governos devem encorajar os adultos a trabalhar.» A razão é simples: se as famílias tiverem dinheiro suficiente, não precisarão que os filhos sejam fontes de receita.
Finalmente, é feito um apelo às restantes crianças do mundo: que se unam, que criem um parlamento em cada país. «Temos de nos educar uns aos outros sobre o que é o trabalho infantil»; «só trabalhando juntos, podemos ter o poder de agir e pôr um ponto final ao trabalho infantil».
A OIT já fez as contas: só nos países em desenvolvimento e economias em transição a eliminação do trabalho infantil geraria benefícios económicos na ordem dos 4,11 biliões de euros. O objectivo deste estudo era quantificar o impacte económico da concretização de duas convenções (a 138 e a 182) que visam a abolição do trabalho infantil. A conclusão é esmagadora: pôr um ponto final nas formas de trabalho que envolvem crianças traria ganhos sete vezes superiores aos custos de mantê-las.


A exploração mais degradante

Tráfico de crianças
Atingirá 1,2 milhões de meninos e meninas em todas as regiões do mundo. A eles estão destinados trabalhos pesados em explorações agrícolas, tráfico de drogas e outras actividades ilícitas; elas são sobretudo usadas para exploração sexual e trabalhos domiciliários.

Crianças-soldados
Estima-se que existam cerca de 300 mil crianças-soldados. Só o exército nacional da Birmânia contará com cerca de 70 mil. Em alguns conflitos, a utilização de crianças como «armas de guerra» tem mesmo vindo a aumentar. Na República Democrática do Congo, meninos de sete anos têm vindo a ingressar nos exércitos de menores e os conflitos na Libéria e na Costa do Marfim fizeram com que milhares de novos pequenos soldados fossem recrutados, incluindo alguns que já haviam sido utilizados em guerras de países vizinhos.

Servidão e trabalho forçados
É das categorias mais difíceis de quantificar, apesar de se estimar que atinja 5,7 milhões de crianças, uma grande parte das quais concentrada na região da Ásia/Pacífico.

Prostituição e pornografia
Cerca de 1,8 milhões de menores são afectados. O problema atinge todas as regiões do mundo, particularmente a América Latina e Caraíbas, a região da Ásia Pacífico e as economias desenvolvidas.

Actividades ilícitas
Cerca de 600 mil crianças estão envolvidas em negócios ilegais, sobretudo relacionados com a produção e tráfico de drogas.




Nove visões do inferno

São nove, alinhadas em silêncio ao fundo da sala; a maioria mantém os olhos no chão e as mãos cruzadas à frente da barriga, sinal da tensão por que estão a passar; outras arregalam os olhos perscrutando o rosto de quem olha para elas, sem saberem que, daí a pouco, a sala estaria cheia de palavras que evocam enormes sofrimentos, talvez a única sensação possível diante do horror de uma infância explorada e privada da sua própria humanidade. Estão ali sentadas em fila, ao lado umas das outras: Alice, Shiv, Rafana, Dora, Hermínia, Laura, Zamzam, Ana Luísa, Rute; estão prontas a contar a sua história na esperança de que alguém queira colher as mensagens que estas ex-crianças-trabalhadoras, até há pouco escravas de um sistema que as oprimia, trazem em nome de 246 milhões de seus pequenos companheiros de desventura.
Começa Alice, que veste uma camisolinha branca, com um chapelinho escuro na cabeça e os olhos amedrontados de uma pequena gazela: «Venho de Abidjan, capital da Costa do Marfim; tenho 15 anos; desde os sete que fui obrigada a trabalhar diariamente na lixeira, em busca de refugo que pudesse ser vendido para ganhar uns tostões e poder comer. Devo a minha salvação a uma organização não governamental que veio descobrir-me na lixeira onde vivia. Consegui abandonar um trabalho muito perigoso, que me punha em contacto até com lixo hospitalar. Comecei a frequentar a escola. Agora já sei ler e escrever. Espero que em breve todas as crianças-trabalhadoras do mundo possam ter a sorte que eu tive.»
Alice está emocionada, mas não mais do que Shiv, o único rapaz que aceitou falar da sua experiência de criança-escrava: «Tenho 16 anos e quando tinha dez fui obrigado a entrar no mundo de trabalho por engano, por um pedaço de chocolate, numa fábrica de tapetes. Durante cinco anos, trabalhei horas e horas ao dia, sem poder voltar a casa, sem receber qualquer remuneração. Interrogo-me frequentemente se quem pisa os tapetes sabe que estes objectos são fabricados por crianças e em que condições vivem, em ambientes em que é fácil aleijar-se e onde as meninas são constantemente abusadas. Eu fui raptado há sete anos, devido a uma tablete de chocolate; agora estou aqui a falar em nome das crianças que na Índia, Bangladesh, Sri Lanka, Paquistão, Nepal estão a passar pela minha própria experiência. Estou aqui para lutar também em nome delas, para que mais nenhuma criança tenha de sofrer aquilo que eu sofri.»
Rafana tem 17 anos, é cambojana e trabalhou alguns anos no sector da pesca: «Trabalhava num barco – conta, com os olhos marejados de lágrimas pela emoção – desde as cinco da manhã até ao anoitecer. Não havia tempo para descansar; por vezes, era obrigada a trabalhar durante horas seguidas debruçada sobre a rede para apanhar o peixe, e as espinhas espetavam-se-me nas mãos. Recordo-me que, por vezes, os donos dos barcos obrigavam as crianças-trabalhadoras a drogar-se para renderem mais; noutras ocasiões, sobretudo quando se saía para fora das fronteiras cambojanas, alguns de nós eram constrangidos a servir de passadores de droga. As crianças chegam a perder a esperança, pensando que os adultos só as querem explorar para o lucro e que nós nada podemos fazer. Eu também pensava assim, até que um dia os agentes de uma organização me conseguiram contactar e me ajudaram a sair desta situação.»
A mesma convicção têm as outras três crianças-trabalhadoras que contaram a sua história.
Dora tem 16 anos e vem dos Estados Unidos: «Comecei a trabalhar aos nove anos na agricultura; a minha família precisava de mais dinheiro e a sacrificada fui eu, como acontece em tantas outras famílias de imigrantes nos EUA. Levantava-me às cinco da manhã e trabalhava até ao pôr do Sol, em contacto com pesticidas, serpentes e escorpiões. Uma vez, cortei um dedo do pé com a ferramenta: a ferida era profunda e eu sofri muito.»
Hermínia é da ilha Maurícia e tem 15 anos: «Aos 13 anos tive de deixar a escola, porque a minha família precisava de dinheiro. Trabalhava desde as cinco da manhã às seis da tarde nas hortas; todas as manhãs pegava numa grande cesta cheia de sementes e numa sachola. Um dia, senti-me mal e o capataz mandou-me embora. Mas a minha família precisava de mim; arranjaram-me então um emprego numa florista; espero que os governos africanos façam alguma coisa para ajudar as crianças.»
Laura é a mais nova: tem 13 anos, mas com o aspecto desenvolto de uma veterana de um sindicato. De facto, ela chefia um grupo de crianças-trabalhadoras da sua cidade, Bogotá, na Colômbia. «Trabalho na loja da minha mãe desde os seis anos: vendo cautelas da lotaria, mas há crianças bem mais infelizes que eu. A maioria dos meus coetâneos na Colômbia é obrigada a trabalhar, porque até hoje o Governo não foi capaz de implementar leis contra o trabalho infantil, porque empregar crianças custa menos e é mais lucrativo para os patrões.»
Zamzam tem 14 anos, é uma criatura franzina, delicada, enfiada no seu vestidinho escuro e com um véu bege a cobrir-lhe a cabeça. Vem de Saná, capital do Iémen: «A minha família tinha problemas económicos e eu tive de começar a trabalhar como vendedora ambulante de rebuçados; meu pai morreu de ataque cardíaco e há três semanas morreu a minha mãe. Tive de deixar a escola e fui para a rua, para ganhar a vida. Acho que nenhuma criança pode ser obrigada a deixar a sua família, a não ser para ir estudar no estrangeiro.»
Ana Luísa tem 17 anos e vem de Tegucigalpa, Honduras. «Comecei a trabalhar aos seis anos, pouco depois de me ter matriculado na escola primária, que tive de abandonar para ir trabalhar no lixo. O patrão pagava-me o equivalente a 40 cêntimos por dia para ir de casa em casa recolher o lixo e levá-lo para a lixeira. À noite, tinha de trabalhar como ama e empregada doméstica. Acho que na América Central, e sobretudo nas Honduras, nós crianças fomos particularmente atingidas pela adopção dos sistemas económicos neoliberais, cujo efeito principal foi o aumento da pobreza; a certa altura, até as carteiras desapareceram da escola. Só nos restou o trabalho sujo, de que as crianças são as principais vítimas. Os políticos, a sociedade civil, as organizações que defendem os direitos do homem têm que agir, têm de intervir e ajudar-nos a acabar com o trabalho infantil e a pobreza.»
Rute, peruana, tem 16 anos e faz uma surpreendente reflexão sobre os adultos e as crianças: «Trabalho desde os sete anos. Acho que não há lugar nenhum onde as crianças trabalhem por necessidade, mas apenas devido à pobreza. Nós somos o presente e representamos o futuro: temos de encontrar soluções concretas para a praga da exploração do trabalho infantil. O que me parece é que hoje as crianças estão a desempenhar o papel dos adultos, enquanto os adultos deveriam assumir o espírito das crianças.»

LUCA LEONE, Jornalista (Misna)



© copyright Missionários Combonianos - Revista Além-Mar Todos os direitos reservados

Nenhum comentário: