Transtorno afeta vida profissional
Inquieto, impulsivo, impaciente, indisciplinado. O arquiteto Laerte Sakai, 49, utiliza essas palavras para descrever seu comportamento nos 14 anos em que trabalhou como executivo de uma construtora. Assim que a rotina perdeu o tom de desafio, Sakai conta que se viu perdido com a sua falta de estrutura e incapacidade de lidar com prazos.
Estímulo é também o motor da vida da gerente de projetos P.R., 34, que afirma esconder atrás da eficácia sua inquietude e falta de foco. "O que me manteve empregada até hoje é que eu produzo muito bem sob pressão", diz. A executiva diz não saber lidar com a rotina. "Chego atrasada, falto no trabalho. Não consigo planejar", revela.
As histórias de ambos são os dois lados de uma mesma moeda - ou síndrome. O distúrbio do déficit de atenção (DDA) traz evidentes repercussões na vida profissional do portador não diagnosticado. "Trabalhava um dia e passava dois distraída. A sensação é a de ser uma fraude", relata P.R., que demorou dez anos para obter o diagnóstico correto.
A neurologista Célia Roesler, da Associação Brasileira do Déficit de Atenção, diz que lidar com os portadores é um desafio para a maioria das empresas.
"São pessoas de raciocínio rápido, criativas e dinâmicas, quando estimuladas. Mas não são aceitas porque têm dificuldade para concluir tarefas, chegam atrasadas", define.
Essa conduta aparentemente rebelde se deve às características do distúrbio, que afeta a parte frontal do cérebro. "Quando essa parte do cérebro é subutilizada, a pessoa perde a capacidade de pensar duas vezes e de gerenciar uma escolha", explica a neurologista Cleise Pereira de Castro Proa.
Por não inibir impulsos, o portador sofre de agitação motora e incontinência verbal. Anda por todos os lugares, faz comentários inadequados na hora errada e se altera facilmente. "É o profissional ansioso, que não consegue esperar. Tem milhões de idéias, vontades e projetos, mas não os executa por ser incapaz de organizar, priorizar e planejar", pondera Proa.
Nessas situações, a neurologista faz duas recomendações: medicamento e terapia cognitivo-comportamental.
Esse foi o caminho encontrado pelo arquiteto Laerte Sakai para estruturar seu dia-a-dia. "Tenho sempre um grande relógio à vista para controlar o horário e aprendi a me organizar com prazos e prioridades. Agora já encaro reuniões sem me sentir mal", comemora.
(Folha de S.Paulo)
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