segunda-feira, 31 de maio de 2010

Economia criativa interessante, retirado BNDS

Estratégia de desenvolvimento

Desenvolvimento não é uma dádiva dos deuses, não é uma loteria dos países e, muito menos, um processo linear e automático resultante dó passar dos anos. Desenvolvimento se constrói.
Países que conseguiram se reinventar, mantendo ou criando uma inserção internacional positiva, com uma certa equidade na distribuição de renda e processos democráticos de decisão e representação, fizeram opções construindo uma estratégia de desenvolvimento.
O Brasil não tem uma estratégia de desenvolvimento, não sabe como e muito menos aonde quer chegar.
No atual cenário internacional, a Economia Criativa pode se transformar em uma eficiente arma, em uma estratégia de desenvolvimento para o país. Ao mesmo tempo em que gera condições de competitividade, através de inovação,
fortalecimento de marcas e design, gera empregos de Gestão melhor nível e melhor remuneração e, conseqüentemente, gera consumidores mais sofisticados, os quais, por sua vez, contribuem para o circulo virtuoso com sua criatividade e sua demanda por inovação, design e qualidade.
Investir nos mais diferentes setores ligados à Economia Criativa é um passo importante em qualquer opção estraté~c"a de desenvolvimento. São eles que darão as condições para a viabilização e consolidação do desenvolvimento no longo prazo.

Inovação
Inovação é ponto de partida e de chegada da Economia Criativa e pressupõe mais do que inovar no design da forma. A inovação que emerge dos processos que ela origina é inovação da função. Como diz Bruce Mau: "1t's not about the world of design, it's about the designing of the world" [Não é sobre o mundo do design, é sobre o desenhar o mundo], Em relação aos negócios criativos, é preciso inovar na linguagem: relação com público, uso do espaço ou do suporte, processo de produção e, principalmente, mais foco na distribuição e no acesso, que são as verdadeiras chaves para o sucesso. Em relação à culturalização dos negócios, a inovação surge nas relações de negócios - mais éticas, horizontais e baseadas em "coopetição" (competitividade gerada pela cooperação) - e, principalmente, através da percepção de que a sobrevivência de nossas empresas.está cada vez mais dependente de atributos culturais, baseados em nossa identidade e diversidade.
Inovação pressupõe novas tecnologias - sem se limitar a elas -, cujo
acesso democrático e amplo é uma premissa. Porém a grande inovação, que está na base de tudo isso, é a re-invenção da própria economia, que, para abarcar as múltiplas dimensões que caracterizam os recursos intangíveis, precisa desenvolver novos indicadores de riCLueza e novas formas de avaliação e mensuração.

Tecnologia
A globalização não é um fenômeno novo. Os Vikings com seu comércio,
a Companhia das Índias, a descoberta das Américas, são todos processos
'que fizeram parte da globalização. O que mudou nas últimas duas ou três décadas é a velocidade e intensidade deste processo chamado globalização. A revolução tecnológica inaugurada com a era digital vem rompendo paradigmas, intensificando e acelerando a globalização.
Mas, ao contrário do que muitos acreditam, graças aos avanços
tecnológicos a globalização não esta só fazendo terra arrasada e eliminando as especificidades regionais. O processo é muito mais complexo e contraditório.
Ao mesmo tempo em que incorpora, submete e subverte
países e regiões mais longínquas, com padrões e processos definidos segundo os interesses de mercados e empresas multinacionais, a globalização se alimenta das inovações tecnológicas e, ao fomentá-Ias, vêm criando oportunidades inimagináveis de democratização de informação, conhecimento e acesso a mercados.
Com as novas tecnologias, o regional, o local, o específico,
o marginal passam a ter acesso a mercados até há pouco inatingíveis. Novos negócios e novos mercados passam a
ser viabilizados, muitas vezes incluindo atores e setores, viabilizando-os quer como alternativa econômica quer como mânifestação cultural.

Etica
Uma economia voltada para o desenvolvimento, e não apenas para o crescimento econômico, que busque integrar a macroeconomia de escala característica do século 20 com a microeconomia de nicho do século 21, uma economia que resgate valores como confiança e respeito - condição sine qua non para a viabilização de parcerias -, tem na Economia Criativa um instrumento poderoso de alavancagem.
Interdependência, inclusão e cooperação são intrínsecas
à Economia Criativa. Aos 13oucos, como verdadeiros valores intangíveis, vão permeando as mais diferentes sociedades e se impondo como valores estratégicos. Mais do que um valor e/ou uma opção moral, a ética se impõe como condição para a longevidade e o sucesso dos negócios.
Criando novos mercados, trabalhando com redes e processos - no lugar de cadeias e modelos fechados -, incluindo a economia informal, gerando novos modelos de gestão, criando novas linguagens, a Economia Criativa amplia e qualifica os espaços de convivência, valoriza a diversidade cultural e amplia as ações articuladas e interdisciplinares, as quais, por definição, dependem de confiança e reputação, para além de marca e mercado.





Gestão

Se a percepção de nossa interdependência é nosso norte, a maneira de trabalhar com isso é a convergência: ação transdisciplinar e integrada entre setor público, privado e criadores. Esse é nosso maior desafio e também nossa maior oportunidade. Para que isso seja possível, é necessária uma revisão inclusive nos modelos de gestão.

A primeira mudança está na passagem do foco em produtos para o foco em processos, o que é mais difícil, não só porque requer aquilo que nossas instituições ainda estão buscando visão sistêmica, ação concertada e continuidade (o grande problema do setor público) , mas também porque processos são menos visíveis e imediatos, o que os toma menos atraentes para investidores.
Temos ainda um problema sério de adequação de normas e procedimento: mudaram os conceitos e o foco, mas não mudaram os mecanismos que os concretizam.
Finalmente, a ação integrada e convergente deve estar norteada por uma mudança de mentalidade, da qual depende todo o processo: re-significar a idéia de crescimento, de sucesso, de conforto para que o planeta - e tudo o que nele se insere - seja sustentável e sobreviva. Isso implica
inicialmente em mudar o foco do crescimento econômico, em que os recursos são investidos na especulação, para o foco em desenvolvimento, em que se investe na produção sustentável.


Conhecimento e criatividade
A Economia Criativa é estratégica, pois sua matéria¬prima - criatividade, conhecimento e cultura - é um recurso abundante, renovável e que se multiplica com o uso. Estratégica também ao incluir, além dos negócios criativos, propriamente ditos, a chamada culturalização dos negócios: num mundo globalizado. o que diferencia bens e serviços vem de atributos culturais. Porém, para que o patrimônio representado por conhecimento e criatividade se transforme em qualidade de vida, alguns desafios se apresentam.
Como chamar a atenção e ser visto neste mar de opções em que nos encontramos?
Como aproximar o Brasil do design, da inovação, da tecnologia com o Brasil da vocação, do talento, da diversidade e estabelecer novos vínculos com base na percepção de sua interdependência? Necessitamos profissionais, instrumentos e instituições de caráter transdisciplinar, que possam atuar como modems, integrando setores, pessoas e processos.
A noção de conhecimento deve ser ampliada, integrando o formal e o informal, a técnica e a tradição. Para tanto, uma premissa básica é o acesso democrático à informação e à possibilidade de conexão e interação, sendo as tecnologias digitais os grandes aliados deste processo.
E como fomentar o conhecimento e a criatividade? O aprendizado através do intercâmbio entre boas práticas já existentes é o meio mais eficiente. É preciso ampliar os espaços de trocas, espaços de encontro entre as diferenças. A diversidade é a fonte do conhecimento e da criatividade. Como dizia Darwin, "das diferenças vem a evolução".

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