sábado, 8 de maio de 2010

"O preconceito tem nomes específicos"

Fonte:O GLOBO - 07/05/2010



CORPO A CORPO

VERNOR MUÑOZ

SÃO PAULO. Relator da ONU para o Direito à Educação, o costarriquenho Vernor
Muñoz está no Brasil para debater a discriminação como obstáculo para a
escola. Em entrevista, ele afirma que o preconceito atinge as minorias
sociais.
Adauri Antunes Barbosa
O GLOBO: A discriminação é o principal obstáculo para o acesso à educação?
VERNOR MUÑOZ : Os principais problemas de acesso estão nas comunidades
historicamente discriminadas.
Estamos falando de comunidades indígenas, pessoas com deficiências e
provenientes de minorias étnicas e culturais.
Se prestamos atenção em quem está fora da escola, vamos constatar que as
comunidades indígenas são o grupo historicamente mais discriminado, como
camponeses e portadores de deficiências. O preconceito, a discriminação ao
acesso à educação tem nomes específicos.
Por que existe tanta discriminação na escola?
MUÑOZ: Os sistemas educativos são fundamentados na falsa ideia de se
tornarem homogêneos. Essa ideia de homogeneizar tem tornado totalmente
invisíveis as culturas indígenas.
Não só porque não têm acesso à educação, mas porque, quando têm acesso, as
culturas indígenas não estão representadas no currículo escolar. Isso nas
áreas urbanas. Nas rurais, a oferta educativa não responde às culturas e aos
idiomas desses povos. Continua uma educação pensada pelos brancos e com
livros que muitas vezes não reconhecem essas culturas.
A educação é desenvolvida também por professores que, muitas vezes, não são
de comunidades indígenas.
Como sair do impasse?
MUÑOZ: Temos de pensar num tipo de educação que seja descolonizadora e que
resgate o potencial dos povos indígenas, historicamente excluídos.
O senhor é contra a privatização da educação na América Latina?
MUÑOZ: Não sou contra a iniciativa privada na educação.
É uma liberdade de pessoas e empresas. Mas devemos deixar claramente
estabelecido que educação é um direito humano, cuja obrigação é do Estado.
Se ele não assume sua obrigação, não pode transferi-la à iniciativa privada.
Devemos combater a ideia de que, mediante a mercantilização, o Estado deixe
uma de suas obrigações centrais.

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