Segunda-feira, 09 de Agosto de 2010
Colégio estadual na Capital inova e consegue reduzir fuga escolar de 36% para 12% em três anos. Foto:Diego Vara.O Ensino Médio está perdendo o interesse entre os gaúchos.Uma pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) indica que o número de matrículas vem caindo quase sete vezes mais do que a população na faixa etária correspondente.
A situação é agravada pelos altos índices de reprovação e abandono escolar na rede estadual – que deixam o Rio Grande do Sul na terceira pior posição nacional do ranking de aprovação no Ensino Médio.
Otrabalho do Grupo de Estudos sobre Universidade da UFRGS demonstra que, entre 2005 e 2008, o número de matrículas caiu 11% no Estado – enquanto a queda média nacional foi de 6,9%. Essa retração não pode ser atribuída a mudanças no perfil demográfico.
Nesse mesmo período, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou uma redução bem menor na faixa etária adequada ao Ensino Médio no Rio Grande do Sul: a população entre 15 e 17 anos recuou 1,6%.
– Há um desinteresse no Ensino Médio devido à perda de identidade dessa modalidade. Hoje, ele representa algo apenas para quem quer seguir o Ensino Superior. Muitos alunos deixam a escola para trabalhar e aumentar a renda familiar. Entre as mulheres, há o problema da gravidez na adolescência – interpreta o sociólogo Bruno Morche, um dos autores do estudo.
De cada cem alunos, apenas 65 se formaram em 2008
O levantamento demonstra ainda que o percentual de gaúchos que concluem o ano letivo, em comparação com o número de ingressantes, fica abaixo da média nacional. Em 2008, 83 mil estudantes terminaram o Ensino Médio, enquanto 180 mil ingressaram nele – um índice de 46%. Nacionalmente, os concluintes representam 51,7% das novas matrículas.
Registros do Ministério da Educação apontam outros obstáculos do antigo ensino secundário. No ano passado, de cada cem alunos que ingressaram no colégio, somente 65 se formaram. Isso deixa o Rio Grande do Sul em uma incômoda 25ª posição – à frente apenas de Sergipe e Rio de Janeiro. Dados da Secretaria Estadual da Educação (SEC) permitem concluir que, dos 35 estudantes gaúchos que não avançam de ano, 21 são reprovados, e 14 deixam a escola.
Santa Catarina aprova quase o dobro de alunos
Uma comparação com Santa Catarina, que tem o melhor fluxo do país, escancara o mau desempenho rio-grandense: no Estado vizinho, 81,6% dos alunos do Ensino Médio conseguem concluir o ano. Isto significa que apenas 18 de cada cem colegas são reprovados ou deixam o colégio.
Esses indicadores formam o principal obstáculo a um melhor desempenho da rede pública rio-grandense no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) – indicador de qualidade utilizado pelo governo federal composto por notas em exames de português e matemática e pelo índice de aprovação dos alunos. Os rio-grandenses têm as melhores notas no país entre os alunos das redes estaduais, mas seu desempenho acaba comprometido pelo fluxo estudantil.
O secretário estadual da Educação, Ervino Deon, admite preocupação com o problema.
– A escola tem de ser mais atraente, ter um significado maior para estes jovens – afirma.
Deon lembra que o governo estadual procura investir na infraestrutura escolar e na formação dos professores a fim de melhorar a frequência e o desempenho do aluno.
Para a professora da Faculdade de Educação da UFRGS Nalú Farenzena, porém, o assunto deve ser tratado como prioridade.
– Os dirigentes educacionais têm de procurar saber quais são os fatores que levam a essas taxas e procurar incidir neles – aponta.
Escola muda e atrai aluno
A fuga do Ensino Médio pode ser estancada, como demonstra o exemplo de um colégio da rede estadual de Porto Alegre. Graças a uma administração centrada na frequência e no desempenho dos alunos e a mudanças estruturais, a instituição conseguiu reduzir a taxa de abandono escolar de 36% para 12% em três anos.
Localizado no bairro Partenon, e com 1,6 mil alunos, o Instituto Estadual de Educação Paulo da Gama começou a mudar sua situação com o auxílio de uma parceria com o Instituto Unibanco, que garante R$ 100 ao ano por aluno para melhorias de infraestrutura, projetos especiais com os estudantes e com os professores.
A direção também estabeleceu planilhas para acompanhar diariamente eventuais faltas de alunos. Quando é detectada uma ausência, a família é procurada.
Quem mora longe pode até receber auxílio para pagar as passagens de ônibus. Os estudantes com menor número de faltas e melhor desempenho recebem prêmios, como ingressos para teatro, cinema e passeios.
– Procuramos trabalhar a auto-estima e a disciplina por meio de um rigoroso controle de frequência – explica a diretora, Nilse Christ Trennepohl.
Disciplina rígida para evitar brincadeiras em aula
Outra medida foi eliminar as inscrições para o período noturno. Conforme Nilse, a maioria dos estudantes pretendia apenas garantir matrícula para comprar passagens de ônibus com desconto ou conseguir um estágio remunerado. Ao longo do ano, iam abandonando o colégio até deixarem as salas quase vazias.
A disciplina também é rígida: ninguém fica de boné na sala de aula, a fim de evitar que o rosto escondido estimule brincadeiras fora de hora. Óculos escuros são proibidos para facilitar a identificação dos alunos.
Como resultado, a instituição está conseguindo até trazer de volta antigos estudantes evadidos. Gisele Moreira da Silva, 28 anos, deixou os estudos devido à gravidez. Hoje, como os filhos já têm 11 e nove anos, retomou o Ensino Médio no Paulo da Gama.
– Quando todo mundo se esforça, a gente também se sente mais estimulada a estudar. E, com mais estudo, a gente tem chance de conseguir uma vida melhor – resume.
Fonte: Zero Hora
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