8 de setembro de 2010 16:22
Desafios do próximo presidente: Infraestrutura, da picareta à inteligência
Por Fernanda Pompeu, especial para o Yahoo! Brasil
Faça o teste! Pergunte a qualquer pessoa que associações ela faz ao ouvir a palavra infraestrutura. A maioria dirá: estradas, transportes, mineração, aeroportos, portos, hidrelétricas, hidrovias, indústria naval, cabotagem, ferrovias, exploração de petróleo e gás, transmissão de energia, tratamento de água e esgoto, uso de energias limpas. Elas estão certas. Infraestrutura abrange uma grande diversidade de universos.
Continue com o teste. Pergunte o que é preciso para melhorar e expandir a infraestrutura brasileira. A maior parte das pessoas afirmará: investimentos, vontade política, escolha de prioridades, pesquisas tecnológicas, logística, planejamento, telecomunicações, compromisso com a coisa pública e muito trabalho. Elas continuam acertando. Infraestrutura é a base de todo e qualquer projeto de desenvolvimento.
E tem outra coisa. Quanto mais a economia cresce, mais a infraestrutura, ou a falta dela, aparece. Economistas, pesquisadores, engenheiros, empresários, governo concordam quanto ao diagnóstico: são necessários investimentos públicos e privados em estradas, ferrovias, portos, aeroportos para agilizar e baratear a circulação de produtos para o mercado interno e para exportação.
Também as cidades e suas gentes precisam de transporte urbano subterrâneo, combustíveis menos poluentes, escolas técnicas, popularização do conhecimento científico, organização e qualificação das informações, canais de participação para que as pessoas discutam o que é melhor para elas em opções de infraestrutura. A consulta popular pode evitar a construção de monstrengos, fadados a custar muito agora para serem derrubados amanhã.
É preciso uma força-tarefa envolvendo governo, iniciativa privada e população para resolver os chamados gargalos da infraestrutura brasileira. A imagem é boa, pois é no gargalo que a situação aperta e estrangula o fluxo. Exemplo são os produtos de exportação brasileira. Mais de 90% deixam o país pelo mar. Mas antes de chegar nos portos do sul e sudeste – superlotados de demandas –, 60% da carga foram transportados em caminhões por estradas ruins.
Raymond Louis Rebetez, diretor do Astro Café e da Ipanema Agrícola, sente na pele as dificuldades para exportar seu produto. “Estradas ruins significam mais custos. Além da perda de muito tempo, o seguro do produto é mais caro, a escolta para acompanhar a carga é mais cara, há mais desgastes de pneus e suspensões dos caminhões. Depois da empreitada, a mercadoria chega em Santos e esbarra com o gargalo portuário. Os caminhões demoram para encostar nos depósitos e os navios não podem esperar”.
Já o diretor-presidente da OHL Brasil, José Carlos de Oliveira, responsável pelos 568 km da Rodovia Fernão Dias, acredita que, “para aumentar a oferta de infraestrutura, além do dinheiro do governo, é necessário atrair capitais privados, nacionais e internacionais, dispostos a investir”. Não é pouca coisa, se lembramos a extensão continental do país e a imensa circulação de pessoas e produtos. Para José Carlos, “o grande desafio para governo e sociedade é seguir mantendo a inflação controlada e investir no setor de logística dos transportes. Só assim a produção vai fluir com custos menores.”
Logística, mais do que uma palavra da moda, é a chave para procurar soluções em rede. Não se trata mais de priorizar um único modelo ou uma única verdade. Trocando em miúdos, logística é a capacidade de pensar em como um modo de transporte complementa o outro. Ou em como uma política pública apoia uma outra com o objetivo de garantir que cada projeto de infraestrutura tenha começo, meio e fim.
O presidente da Associação Brasileira de Logística (Aslog), Rodrigo Vilaça, em artigo postado no site da entidade, comemora: “Felizmente as companhias perceberam que o trabalho logístico, visando à redução dos custos, é uma fonte de agregação de valor aos produtos e serviços. A logística é uma das principais soluções para a redução de custos no Brasil”.
Outra oportunidade anunciada é o mega empreendimento do pré-sal. Prospectar petróleo em águas profundas abre oportunidades em várias frentes e obriga a um esforço de soluções de infraestrutura. Mas não só. Obriga também ao desenvolvimento tecnológico de ponta. Basta olhar a grade de cursos oferecidos pela Coppe–UFRJ, onde pululam formações para altas especializações, notadamente nas áreas de exploração de petróleo e gás e ciências do mar.
Gisela Mac Laren, dona do estaleiro Mac Laren Oil, diz: “Nossa atividade está intimamente atrelada ao valor do petróleo. O pré-sal tende a movimentar toda a indústria naval”. Mas Gisela não é só otimismo. Ela enxerga como um importante desafio para o próximo presidente: “Incrementar o transporte ferroviário, fluvial e a cabotagem [navegação costeira]. Temos pouquíssimos navios para cobrir uma costa de 8 mil quilômetros”.
Copa e Olimpíada
Há muito a ser feito para receber a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. O trabalho não tem só a ver com cimento e ferro para erguer e reformar estádios, ginásios, dependências para atletas. Não tem só a ver com a construção e ampliação de aeroportos e seus serviços. Tem a ver também com a melhora do transporte urbano, com a infraestrutura turística, com a segurança e a capacitação de pessoal.
Mas o pulo do gato da infraestrutura brasileira está principalmente no capital humano e na capacidade de tomar decisões inteligentes. A educadora Silvinha Meirelles, consultora para assuntos de educação e cultura, tem certeza que “a educação pode ajudar as pessoas a desenvolveram uma visão mais crítica e participativa. Assim, elas poderão decidir se preferem a construção de uma ponte ou de uma praça em suas comunidades.”
A infraestrutura não é uma caixinha fechada, nem panacéia para todos os males da oitava economia do mundo. Segundo Silvério Crestana, consultor do Instituto Brasileiro de Excelência em Liderança e Gestão (Ibelg), “uma boa infraestrutura é aquela que acompanha a vocação local de cada região. Se a oportunidade for o turismo, a infraestrutura será por estradas, pontes. Se for a agricultura, demandará ferrovias e hidrovias para escoar a produção. Cada tipo de vocação e oportunidade exige tecnologia e conhecimento científico próprios”.
Em resumo, infraestrutura não é assunto só para engenheiros, empresários e gestores públicos. Ela é assunto e preocupação para toda a sociedade. Suas interfaces são investimento estatal, investimento da iniciativa privada, permanência de uma economia estável, compromisso com o meio ambiente, incrementos da educação e capacitação, fomento para a inovação tecnologia e pesquisas. Mais políticas públicas, democracia e visão a longo prazo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário