Fonte: O Globo - 25/07/10
ELIO GASPARI
Aqui vai contada uma história indicativa de que está raiando uma nova elite
no horizonte de Pindorama.
É o caso do encontro das vidas de quatro jovens com um dos maiores
empresários do país. Os detalhes que permitiriam identificar os personagens
estão omitidos.
Pode ser frustrante, mas estimula a imaginação.
Afinal, uma história dessas pode acontecer com mais gente, em muitos
lugares, basta querer.
Conversando com o reitor de uma grande (e caríssima) universidade, o
empresário perguntou-lhe como poderia ajudar alguns bons estudantes de
engenharia. Feita uma seleção, decidiu custear alunos de quatro cursos,
cobrindo as anuidades e pequenas despesas pessoais, mais um laptop para cada
um.
As histórias dos jovens: O aluno de ciência da computação veio de uma escola
de ensino profissionalizante e, no primeiro ano do curso, conseguiu notas
superiores a 9 em duas matérias.
Mora num porão de loja num subúrbio, com a mãe diarista, o pai desempregado
e um irmão estudante da rede pública. Recebem ajuda do programa Bolsa
Família.
A aluna do curso de engenharia, filha de um garagista, mora numa favela
("fábrica de produzir marginal", como disse o governador Sérgio Cabral em
outubro de 2007, ao defender o aborto como instrumento de redução da
criminalidade). A moça trabalha num projeto de biodiesel, tem um irmão no
último ano do ensino médio, e os dois são instrumentistas na orquestra da
comunidade.
Na mesma favela, vive a estudante que se encaminha para a especialização em
engenharia química. A mãe, doente, nunca trabalhou.
O pai é porteiro. Ela veio de uma boa escola pública e tem cinco anos de
curso de espanhol. Será engenheira química e fez um estágio na Petrobras.
A quarta já foi convidada por três professores para ser monitora. Está no
último dos cincos anos de um curso de francês, para o qual foi a primeira
colocada no exame de seleção (teve bolsa integral). Ela também se formará em
engenharia química. Vive com a mãe num quarto alugado de favela, sem ajuda
do pai.
A conta dessa magnífica iniciativa ficará em R$ 130 mil anuais.
A intervenção do empresário facilitou a vida dos quatro, mas eles estão onde
estão porque, quando parecia que lhes faltava tudo, tiveram o estímulo da
família.
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