Novos índices Brasileiros como consumo, direitos de ir e vir, e culturas de locais distintos nos fazem questionar como a diversidade Brasileira vai tratar os outros, pois vejo pessoas que se dizem humanas à frente de cargos não reconhecer o outro ser humano. Por um 2015 humano.
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
Jussara pensa que é branca.
INCIDENTE NA RAIZ
(Cuti – Negros em contos)
Jussara pensa que é branca. Nunca lhe
disseram o contrário. Nem o cartório.
No cabelo crespo deu um jeito. Produto
químico e, fim! Ficou esvoaçante e submetido diariamente a
uma drástica auditoria no couro
cabeludo, para evitar que as raízes pusessem as manguinhas
de fora. Qualquer indício, munia-se de pasta alisante, ferro e
outros que tais e....
O nariz, já não havia nenhuma esperança de eficácia no
método de prendê-lo com pregador de
roupa durante hora por dia. A prática materna não
dera certo em sua infância. Pelo contrário, tinha-lhe
provocado algumas contusões de vasos sanguíneos. Agora,
já moça, suas narinas voavam mais livremente
ao impulso da respiração. Destestava tirar fotografias frontais.
Preferia de perfil, uma forma paliativa,
enquanto sonhava e fazia economias para realizar operação
plástica.
E os lábios? Na tentativa de esconder-lhes a
carnosidade, adquirira um cacoete – já apontado por amigos
c namorados (sempre brancos) –
de mantê-los dentro da boca.
Sobre a pele, naturalmente bronzeada, muito creme e
pó de clarear.
Lá um dia, veio alguém com a notícia de “alisamento
permanente”. Era passar o produto nos cabelos uma só vez e
pronto, livrava-se de ficar de
olho nas raízes. Um gringo qualquer inventara tal fórmula.
Cobrava caro, mas garantia o serviço.
Segundo diziam, a substância alisava a nascente dos pelos.
Jussara deixou-se influenciar. Fez um sacrifício
na economias, protelou o sonho da plástica, e
submeteu-se.
Com as queimaduras químicas na cabeça, foi internada
às pressas, depois de alguns espasmos e desmaios.
Na manhã seguinte, ao abrir com dificuldade os olhos,
no leito do hospital, um enfermeiro crioulo perguntou-lhe:
Tá melhor, nega?
Ela desmaiou de novo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário